terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Investigação da Vida

Eu, que não entendo nem a mim mesma, de repente me pego tentando entender a vida. Será o próprio amor capaz de destruir o amor?

Eu me pego aqui com toda a minha nostalgia pensando nas coisas que ficaram guardadas numa velha gaveta. E eu vejo nela um beijo roubado, um abraço apertado, um telefonema demorado. Vejo todas as coisas abstratas que acabam com o tempo. Acabam, mas não se perdem: estão lá, guardadas, na velha gaveta empoeirada. Lá estão guardadas coisas como um encontro no parque que durou até o amanhecer; uma carta de saudade, um choro que o outro enxugou. Um banho de chuva, um banho de rio. Uma despedida com pressa de voltar. Lá estão uns medos sem nexo resolvidos, umas desculpas. Um convite pra uma fuga do planeta. Eu vejo nela um beijo demorado, molhado. Um desejo, uma pressa de ir, de ficar, de qualquer coisa feita a dois. Um riso daqueles que, de tanto rir, faz chorar. Uma brincadeira. A gaveta está cheia, entulhada. E eu estou vazia: queria entender a vida.

O amor é este monstro grande e assustador. É o mesmo monstro que eu via quando criança, nas paredes do quarto escuro, e me disseram que não era verdade. Estavam enganados. Agora ele vem, o monstro do amor, o monstro assustador. Vem me perguntando no meio da noite: o que você fará se o amor acabar? É preciso estar armado. Esta coisa de monstros que nos pegam de surpresa é demasiadamente aterrorizante, é sufocante e não só isso: é triste.

Passo algumas horas olhando para esta minha velha gaveta. Fotos e filmes imaginários. Cartas imaginárias, e algumas materializadas, manuscritas, perfeitas. O amor deveria durar para sempre. Há tantas gavetas a encher! Diga-me apenas qual é o sintoma, para que eu não seja pega de surpresa pelo monstro! A minha velha gaveta não é velha; é uma criança suja que sofre a falta de atenção. O conteúdo é muito delicado, e está ali preso por um frágil cordão que pode, a qualquer momento, se quebrar.

A minha dúvida acontece revendo tanto conteúdo. Quando tudo muda, quando as pessoas mudam, quando os filmes imaginários se tornam difíceis de repetir. Quando não há replay. Quando o conteúdo da gaveta se torna uma relíquia. Eu me pergunto: qual é o sintoma do fim do amor? Eu quero investigar as hipóteses. O medo da resposta me faz inconformada. Não é possível que, com tantas gavetas ainda por encher, falte o conteúdo. É preciso saber. Para entender, para não temer o monstro. E para dizer que enfim, na verdade, o monstro não existe, e o amor verdadeiro é eterno.

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