domingo, 11 de janeiro de 2009

Segredo

É assim, outra vez,
eu me feri com uma lâmina de medo
de ser feliz

a felicidade estava ali, à minha frente
e escorria, ainda quente,
entre os meus dedos

ai, que as águas frias da saudade
me congelem, me inutilizem,
até que esvaia a minha última verdade

é assim, é amor
é tamanha dor
é a flor imortal que cresce no peito
é um menino, é um destino,
é um segredo

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Flores que nunca morrem

De uma fonte de amor que nunca seca, ganhei uma flor que nunca morre. Foi-me trazida por uma luz que se pôs em pé, em meio ao saguão, com seus olhos de amor e as pernas trêmulas, com um sorriso escondido detrás do semblante um pouco assustado. Foi a imagem mais linda que já vi.

São para mim? - Perguntei. É claro que são para mim. São para mim as primeiras flores imortais da minha vida, embora sem raízes. Flores que nascem de fora para dentro, flores cuja seiva alimenta a esperança, as lágrimas dos olhos, o pingo insistente da torneira antiga na sala ao lado. Tudo são as flores. O mundo inteiro são as flores imortais, e cada uma delas tem a face dele no meio.

Acordei num susto, de um sonho feliz onde as flores imortais ornamentavam a sala de estar onde ele se sentava, numa leitura tranquila. Acordada, as flores continuavam lá, dispostas de forma a não machucar nenhuma pétala, em dois abrigos similares: o primeiro, sobre a penteadeira antiga do quarto, onde logo murcharão; o segundo, no pensamento de uma mulher, no seu coração, onde jamais nenhum tipo de degradação lhes ocorrerá. Mas a luz que me veio antes, agora não mais estava ali. Já havia partido para uma outra terra, um outro endereço. Deixou seus olhos no visor do elevador, seus olhos e seu corpo inteiro, sua alma, seu mundo. Deixou um fio de cabelo perdido em meio às flores, e um beijo de lábios que nunca serão igualados. Deixou um abraço. Deixou-se enfim, inteiro, mesmo tendo partido.

E era um adeus que ele me trazia. Um adeus que suspirava para fora e para dentro, para o Universo, para que alguém talvez pudesse acreditar ser um adeus. Alguém, talvez, acreditasse... Eu, não. O meu momento eterno, as minhas lindas flores imortais, o meu coração pulando dentro do peito, a minha alegria toda contida dentro da pequena caixa de pandora, a minha vontade de me atirar inteira, de gritar pelas ruas, de me jogar do alto do prédio só para arriscar cair nos seus braços, a minha solidão de depois, a minha tristeza desta manhã incerta. Talvez, alguém acreditasse. Eu, não. A mim, me cabe o dever e a obrigação de ser honesta, no mínimo, comigo.

Quando eu voltar a atravessar aquele saguão, talvez pela última vez, a imagem de luz segurando as minhas flores imortais estará lá. Quando eu abrir a porta pela última vez, ainda as flores estarão lá, talvez murchas, que é o que lhes ocorre neste mundo físico. Mas não dentro de mim. Quando ergo meus olhos pela janela ao lado, não vejo o céu gris deste dia triste, os prédios, os carros, não vejo nada. Só vejo aquela imagem do amor personificado e a sua luz, e por todos os dias da minha vida sei que ela estará presente, segurando nos braços as minhas flores imortais.

No fundo do peito eu sinto uma dor que acredito ser causada pela ocupação de um espaço antes virgem, por aquelas flores imortais que de hoje para sempre florescerão dentro de mim. No fundo do peito, eu sinto uma dor causada pelas minhas flores imortais, quando crescem tentando ocupar o vazio que existe ainda, tão perto de onde elas estão.