quinta-feira, 25 de abril de 2013

Doce Infância



Um grande pé de Azaleia
florescendo na lembrança.
Nascem a todo instante
as deliciosas memórias.
Maravilhosas histórias,
contadas, ainda não lidas,
a uma pequena criança.

Deveria haver muitas vidas
para tanto sentimento.

E o que conto primeiro?
Tantas coisas que me vêm!
Lembro de cada canteiro
Pecinhas aqui e ali
Ruas por onde corri

Em uma manhã feliz
fui ser pequena aprendiz
de andar de bicicleta
O pai segurando firme
a sua pequenina atleta
Faceira, leve andorinha
no brinquedo de rodinha

Ai, que delícia falar sobre tudo
que engrandeceu meu mundo!

Antes disso, eu lembro ainda,
a mãe pegando no giz
Um risco branco na lousa,
empenho que nunca finda
Flor de perfeito matiz
me ensinava a escrever o nome.

Tinha cerca de madeira
fechando todo o quintal
Tinha dança da cadeira
tinha gostoso mingau

Menina inquieta e ligeira
duas dores lembro bem:
quando no parque da esquina
numa brincadeira traquina
caí do escorregador
Quebrei o braço! Que dor!
E ainda foi mais além:
de castigo, a fase inteira
Saindo do parque também:
num ligeiro zigue-zague
me perdi na bicicleta
lá se foi a pequena atleta
(ainda era aprendiz)
de nariz no calçamento
Machuquei o meu nariz
que sangrava demasiado
Êta! Que susto danado!

Quando chegava natal,
aniversário, qualquer data,
já sabia a porta exata
que escondia o meu presente:
no fundo do guarda-roupas
o encontrava, afinal!
Lindo, embalado! E, contente,
punha-me a imaginar...
Qual presente iria ganhar?

O pai sentava no chão
brincar com o jogo Papão.

O fim de semana chegava
que delícia que eu achava!
Pai em casa, mãe também
e íamos todos pro sítio.
Como fazia bem!
Tinha cavalo e bezerro
Tinha cachorro e carneiro.
Nata com pão e leite
fresquinho tirado da vaca.
Dormir na casa da vó
quarto escuro, a gente só
e os sapos na cantoria!
Só hoje entendo a alegria
que tinha naquele momento.
Dos sapos, eu tinha medo,
mas este era o meu segredo.

A escola era uma beleza
lembro-me tão claramente!
No primeiro dia de aula
que medo de estar na sala!
O pai, vez em quando, às pressas,
deixava o trabalho às avessas
e vinha me socorrer:
me levava ao hospital
parar a hemorragia nasal
Outra vez ia me buscar
e me deixava ficar
com ele, no seu trabalho.
E quando aprendi a ler,
lá eu vi, nunca vou esquecer,
um nome chamado... Pinto!
Difícil de acreditar!
O pai explicou, paciente,
que era nome de gente.

Tinha lápis colorido
na caixa de vinte e quatro
Bolsa de urso que virava pochete
que a mãe me deu de presente.

A mãe fazia costuras
tão lindas pra gente usar!
Certa vez fez fantasia
rodada, pra eu sambar!
Cheia de babadinhos
que orgulho que eu sentia
Fui tão depressa provar
pra dançar de vestidinho

Papel de carta perfumado
cuidado, colecionado!

No verão, calor danado
refrescado na piscina
Pedalando com cuidado
minha irmã, linda menina,
ia comigo, lado a lado.

Tinha uma boia de braço
com desenho de um palhaço.

Tinha uma mesa amarela
uma cozinha amarela.
Tinha uma cor amarela na minha aquarela.

Certa vez, dia da criança,
o pai chega de viagem
e traz uma linda lembrança
Que coisa linda de imagem!
Era o jogo de carimbos
que tanto tinha querido
Ainda o guardo comigo.

Um dia chegou, de repente
assim, no meio da noite,
um pequenino irmãozinho!
Mas era tão pequenino!
A mãe estava contente
o pai estava contente
a gente estava contente.
Era um enorme presente!

Teve uma noite, ao acaso
convite pra batizado
em que ocorreu um acidente
A mãe ficou machucada
e eu estava assustada
no banco do hospital.
Foi um infernal ruído
o carro ficou destruído
mas todos ficamos bem
Ganhei um pano listrado
e um santinho sagrado.

Um dia veio a mudança
pra uma cidade, pra outra
maravilhosa bagunça!
Era uma nova cidade
nova escola, nova idade,
novas coisas pra fazer!
Chão de terra, fruta no pé
fumaça na chaminé
infinita liberdade
espaço para crescer.

Tinha gostoso risoto
soltando fumaça no prato.

A vida é assim tão intensa
como se fosse sentença
essa coisa de recordar.
E nunca há de parar!
Eu me perco em me lembrar.

Tinha mãe dando conselho
Tinha pai muito ciumento
Tinha roupa secando ao vento
Tinha laço no cabelo

Tanta coisa... Tanta tinha!
A vida era simples assim.
Mas ano ia, ano vinha....
Ai! Que saudade de mim!