sexta-feira, 30 de setembro de 2016

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Primavera incompleta

Passei esse tempo procurando as flores
dos parques, dos jardins, dos buquês,
do vaso da mesa de jantar.
Ainda o perfume,
ainda cores tingindo a lembrança
ainda folhas, seu viço,
ainda a compaixão de vê-las,
quando colhidas, secando.
Tudo, ainda.
Não sei aonde foram
nessa primavera.
Talvez, estive pensando,
ainda seja inverno.


Quase tudo

Foi lá que perdemos nosso olhar, eu sei,
onde perdemos nosso abraço
onde esmoreceu o enlace das pernas
onde secou o suor
e os joelhos pararam de tremer.
Foi lá.
Lá, eu vi,
onde o braço firme se fez superficial
sem o entusiasmo,  sem a ânsia
de segurar forte e para sempre perto.
Foi onde os lábios mudaram o movimento.

Foi lá, tudo no mesmo momento,
longo, construído aos poucos,
esse momento mais longo que existiu.

Lá, onde perdemos o olhar,
perdemos a saudade,
o rubro das flores,
do sangue, da paixão.
Perdemos quase tudo,
quase tudo.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Horizonte

Enche o peito, inspira lentamente
É um suspiro
Pensamento longe, não sabe onde
No som a música de antes
Engole o choro,
não permite que escorra
Algo mais escorre
por dentro, por entre os dedos,
pelas nuvens que fita com olhos mansos
Espera pelo que não deve esperar
Voa aonde não deve voar
É tudo leve, tudo limpo
É tudo tão imenso
E ainda mais longínquo.

sábado, 24 de setembro de 2016

Momento em branco

Fique assim,  não se mova
Assim deitado como fazem as crianças
Assim ausente submerso no sonho
Quieto
E eu te envolvo com o meu momento
Sem barulhos, sem inquietações
Sem a ânsia da interrupção
Sem movimento
Sem nada.


sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Bistrô

Para mim, garçom,
por favor,
uma dose de mar
uma lua para decorar
Toque um silêncio
Vou sentar aqui
para ouvir
tudo me tocar

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Pílula

Eu pensava que era felicidade
e quando faltou a dose de alegria
felicidade morreu.

Era só aquela coisa colorida,
uma dose de vida comprada
numa pequena cartela.


Prelúdio

Estão baixos estes olhos.
Estão fundos,
parados como águas que não nascem.
Anunciam escuridão.
Tão estáticos, distantes,
não falam como falam os olhos vivos,
não riem, estão isentos de emoções.
Estão baixos, apenas.

sábado, 10 de setembro de 2016

Fugaz

Meu bem, eu nem sabia mais
o que era bom
nem lembrava que isso existia
pegou de surpresa, você sabe
Mas eu sinto, meu bem,
preciso confessar
acordei um dia assim,
leve outra vez,
com os mesmos olhos de antes
aliviada, sem aquele susto
acordei curada, tenho que contar
que nem doeu,
nem abriu feridas,
e passou tão breve
que nem me lembro.




segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Paradoxal

e a gente,
que vive de princípios,
a gente vive?
me explica, então
para que nos deram
instintos

sábado, 3 de setembro de 2016

Do outro lado

e de repente vem esse arrepio
me alimentar a poesia
então me explica: como faz?
me conta o segredo dessa coisa
que a gente não entende, não escolhe
não quer que fique
mas nunca vai pedir pra ir embora.