Sob o bombardeio das tendências ditadas pela moda contemporânea, que impõem a magreza como símbolo de beleza, elegância, e sucesso no convívio social, não é difícil encontrarmos as vítimas. Pesquisas revelam que mais de 1,7 milhão de brasileiros sofre de Anorexia, um transtorno alimentar e psíquico que acomete principalmente jovens entre 14 e 18 anos, mas que se estende, em menor número, a pacientes de 13 a 30 anos.
A anorexia é uma doença caracterizada pela supressão parcial ou total da alimentação e diminuição excessiva de peso, a curto ou longo prazo. O anoréxico – como é chamado o paciente – observa seu corpo de forma exageradamente crítica, tem uma autopercepção das formas corporais distorcida e a sua auto-estima se dá somente em função do emagrecimento contínuo. A doença já vitima pessoas há décadas, mas vem entrando cada vez mais em evidência, em função de novos fatores externos. O assunto, levado ao ar pela Rede Globo nas novelas do horário nobre, tem aberto espaço maior para discussão e conscientização a seu respeito.
A maior dificuldade quanto à anorexia é que a busca da cura raramente vem do próprio paciente, que não admite sua obsessão como doença. Os sintomas precisam ser observados pelos familiares, principalmente pelos pais, em virtude da idade de pico do transtorno; as providências devem ser imediatas, pois o índice de mortalidade por anorexia é o mais alto de todos os transtornos alimentares: entre 15% e 20%.
Os sintomas da anorexia são muito específicos e o seu diagnóstico é implacável. Segundo a CID-10 (Classificação Internacional de Doenças), pessoas que insistem em manter o peso 85% abaixo do normal para sua idade podem ser consideradas anoréxicas, mas existem outros sintomas evidentes que tornam fácil a sua percepção. Os anoréxicos podem, repetidamente, se recusarem a participar das refeições familiares, sob alegação de que já comeram e não estão mais com fome; têm preocupação exagerada quanto aos alimentos e às calorias, comumente procurando este tipo de informação nos rótulos dos produtos ou em tabelas específicas; nas mulheres, observa-se a interrupção de pelo menos três ciclos menstruais e surge a amenorréia; em alguns casos, submetem-se à atividades físicas intensas e exageradas; estão em constante acompanhamento de seu peso e geralmente têm o hábito de medir o próprio corpo; num estágio mais avançado da doença, fazem uso de laxativos e diuréticos, e podem desenvolver a bulimia; a pele tende a ficar extremamente seca e surgem as crises psíquicas, como falta de concentração, agressividade, irritabilidade, depressão e, em alguns casos, síndrome do pânico.
Estudos sobre as causas da anorexia formam um leque muito grande de possibilidades. A primeira grande incentivadora do emagrecimento compulsivo é a mídia. As revistas líderes de venda para o público feminino tratam de assuntos como dietas, moda e beleza. Mas os homens também constam das estatísticas da doença: cerca de 5% dos pacientes que procuram ajuda são homens. A comunicação visual que envolve personagens humanos é embasada na elegância, e estes personagens são, notadamente, magros, aparentando que, assim, tudo lhes cairá bem. Os efeitos deste apelo visual, principalmente no público adolescente, cuja personalidade está em formação, têm sido um dos assuntos mais discutidos entre os especialistas que estudam a psique.
Além da ditadura da moda, outros fatores mais particulares podem desencadear a doença. Trabalhos apontam a predisposição genética para alguns casos: parentes de 1º grau de vítimas de anorexia exibem um risco oito vezes maior de desenvolver a doença. Considera-se também a vulnerabilidade da personalidade e outros mecanismos psicológicos menos específicos. Um estudo feito pela Universidade de Leeds, no Reino Unido, revelou que uma em cada cinco meninas com nove anos de idade faz dieta porque, na escola, é troçada por seu aspecto físico. Aproximadamente 40% dos casos de anorexia surgem após uma dieta de emagrecimento normal, e 45% dos casos surgem de situações competitivas, seja no trabalho ou no relacionamento. Por este motivo, profissões como bailarinos, dançarinos, atores, modelos, jóqueis e atletas, são consideradas de risco para o desenvolvimento de anorexia.
A mortalidade dos pacientes de anorexia é a mais alta de todas as doenças de base alimentar, e a maioria dos casos de morte registrados ocorreu por inanição, suicídio ou parada cardíaca. Os pacientes que se recuperam podem apresentar seqüelas pelo resto da vida, como casos flutuantes de depressão, dificuldades nos relacionamentos familiares, predisposição à depressão pós-parto nas mulheres, e adaptação profissional ruim. Além disso, podem desenvolver outras doenças devido à falta de nutrientes, como osteoporose, insuficiência renal e, nos casos de amenorréia (interrupção da menstruação), o sistema reprodutor da mulher pode ser seriamente comprometido. Na maioria dos casos descobertos e tratados em estágio inicial e intermediário, o paciente se recupera completamente, embora seja necessário o acompanhamento por alguns anos.
A grande dificuldade do tratamento é a aceitação por parte do paciente: como faz parte da doença que os pacientes se neguem a admiti-la, é possível que eles vejam o médico como um inimigo, interessado somente em alimentá-los, promovendo desta forma o aumento do seu peso. Nos casos mais graves, faz-se necessária a hospitalização para corrigir os níveis hidroeletrolíticos, além de acompanhamento nutricional e psicológico. A reiteração da alimentação deve ser feita de forma gradativa, pois o contrário pode resultar em sobrecarga cardíaca. Mas o fator mais relevante para a recuperação é que a família esteja consciente de que não será fácil, mas que deve persistir e promover o apoio incondicional.
Os Famosos e a Anorexia – Vários casos de anorexia já foram registrados sobre conhecidas personalidades. Atualmente, na novela Páginas da Vida, exibida pela Rede Globo, a atriz Débora Évelyn interpreta a mãe que, por não ter realizado o sonho de ser bailarina, obriga a filha à profissão e à magreza, iniciando um processo de bulimia. Na vida real, Débora parou de comer aos 17 anos, e chegou a pesar 36 quilos. Sua recuperação durou cerca de três anos. Em Cobras e Lagartos, novela também exibida pela Rede Globo, a personagem Júlia (Luiza Mariani) é uma nutricionista que sofre de anorexia.
Um caso mundialmente famoso de morte por anorexia foi o da vocalista e baterista da banda The Carpenters, Karen Carpenter, que morreu aos 33 anos de idade, em 1983, quando estava no auge da carreira. Karen, que já estava pesando 35 quilos, foi encontrada inconsciente na casa de seus pais, e morreu de ataque cardíaco no mesmo dia.
Alanis Morissete, uma das cantoras internacionais mais conhecidas, foi vítima de anorexia e bulimia por cinco anos, e recuperou-se depois de muitas sessões de terapia. Vitória Beckahm, ex-integrante do grupo Spice Girls, hoje casada com o ídolo do futebol David Beckham, tornou-se anoréxica quando ainda estava no grupo, depois de várias dietas descontroladas.
A campeã brasileira de surfe, Andréa Lopes, também já viveu o terror, chegando aos 38 quilos, e teve que deixar de participar de algumas competições por falta de força física. No ápice da doença, Andréa reconheceu o problema e decidiu se curar.
Para não deixarmos os homens de fora desta lista, mencionamos o caso de Daniel Johns, o vocalista da banda Silverchair, que, durante a doença, compôs várias canções falando sobre o assunto, dentre elas a mais famosa, Ana’s Song; e de Matt Damon, que, após perder 20 quilos para a gravação do filme Coragem Sob Fogo, precisou admitir a doença e se submeter a tratamento. Outras personalidades como Lady Di também assumiram a doença.
Atualmente, o caso mais comentado de superação da anorexia é o da atriz e cantora do grupo Rebeldes, Anahí Portillo. Ela conta que, durante a gravação da novela mexicana Mulheres Enganadas, começou a deixar de comer. "A supressão aumentava e eu ficava feliz por estar emagrecendo", conta. "Com o tempo, sentia-me bem apenas quando percebia que estava perdendo peso". Anahí somente aceitou o tratamento aos 17 anos, numa situação de emergência em que foi levada ao hospital e seu coração parou de bater por 8 segundos; passou por três clínicas de recuperação e diz que seu principal aliado foi o apoio da família. Hoje, Anahí levanta a bandeira contra as dietas de emagrecimento e diz que não deseja esta doença nem ao seu pior inimigo. ■
Um comentário:
OI ACHEI MUITO LEGAL O QUE VC ESCREVEU SOBRE A ANOREXIA E A BULIMIA
EU SOFRO DOS DOIS TRANSTORNOS ALIMENTARES A 1 ANO E SEI COMO É DIFICIL
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