domingo, 20 de julho de 2008

Companheira Solidão

ah, companheira
eu e você nessa noite inteira
ontem, amanhã, você aqui comigo
não tem nenhum perigo
porque eu estou assim no seu cuidado
ah, companheira
fica do meu lado
que eu não quero nenhuma choradeira
estar só não é um tédio,
é uma inspiração
veja, companheira,
pulsa meu coração
e eu escrevo assim dessa maneira
obrigada, companheira
por me dar esta canção

Castelo de Areia

Escuta, não vamos derrubar nossos brinquedos
no chão, porque eles podem se quebrar.
Porque a minha devoção por você é maravilhosamente grande
então fique quieto, fique quieto,
não fique proferindo estas palavras que me ferem
vamos continuar a nossa brincadeira
e eu te empresto os meus lápis de cor
e a gente faz estes desenhos coloridos
e cola na parede
Então escuta, guarda a sua espada,
que eu não quero estes brinquedos que machucam
me diz por quê
você tinha que vir agora com esta brincadeira louca
que pode me fazer doer na alma
sabe que a alma quando sangra nada estanca
guarda a tua espada, guarda,
vamos brincar de plantar flores no jardim
Eu quero continuar brincando de louvores
pelo que você é, minha criança,
e o altar que eu fiz pra você
não quero desfazer
Porque o castelo de areia que fizemos é lindo mas,
é frágil
e você não pode brincar tão agressivamente
porque corremos o risco de ter que começar
tudo de novo
Então larga a tua espada, meu menino,
vem brincar de ser meu amiguinho
vem, vamos brincar a vida inteira,
senta aqui e pega o lápis amarelo
desenha o sol que eu desenho o céu azul
e a gente cola isso na parede
do nosso coração
pra nunca mais anoitecer
dentro de nós

Soneto pelas flores no trilho do trem

Vem de algum lugar profundo uma incerteza.
Passarão os dias. E passará este nó?
Vem a voz do inconsciente com a brutal leveza
de quem derruba um muro com um sopro só.

De dentro de mim eu ouço, nitidamente,
a terminal acusação a um fraco réu.
O tribunal da vida age implacavelmente:
pega as lembranças bonitas e as lança ao léu.

Tudo me vem dançando como numa alegoria
em pequenos filmes que eu preferia não ver
porque me fazem pequena, envergonhada, fria

Mas a lembrança do aprendizado inda me vem.
Deve haver razão futura a compreender
para todas as flores lançadas no trilho do trem.

Sexaholic

vez em quando é preciso uma coisa
um gesto, umas algemas
umas chaves tetra
camisas de força
só de vez em quando, querido

vez em quando um susto
um salto, uma seita
uma cinta-liga

uma ronda, umas rendas
uma rendição
é preciso uma arma, querido
ou uma inspiração

vez em quando fogo,
de velas, de veias
essas coisas todas de cinema

é preciso saber que vez em quando
me surgem desejos maiores
de bebidas fortes, licores,
e outras coisas impróprias para menores