quarta-feira, 11 de abril de 2012

Quadrúpede em evolução


Vem o boi do pasto no fim do dia.
Do pasto seco, que é a vida que ele tem.
Bem ali, um passo ou dois além,
no limite do mundo onde se esconde,
um mar de verde se estende no horizonte.

Mas "Vem, boi! Vem!"
O dono reclama, o animal entende
Corda na cabeça, obediência amiga
Quadrúpede fiel sustentador da lida
Sol, chuva, frio... "Vem, boi!"
Braço de animal não sofre de fadiga

E corre o tempo como o rio corre pro mar;
o boi se cansa antes de o dono se cansar.
"Vem, boi!" Vem, balançando o ventre,
quadrúpede fiel, obedecendo sempre

O dono tem direito de escolher a sorte
O boi segue em silêncio, sendo apenas boi
Corda na cabeça, marcha para a morte.
"Vem, boi! Vem!"

E outros tantos vêm com a força que ele tem
Iguais assim em braço e destino e raça
Remoendo os restos da comida escassa
Obediência cega e produção em massa
Forjando pelo tempo a lei da sua desgraça

E o dono com orgulho do rebanho manso
que é o seu descanso
Que não vai além da cerca que ele faz
e assim, é a sua paz
Que assim, calado, lhe parece bem
“Vem, boi! Vem!”

E eu, poeta, versejo a evolução,
com muita simplicidade, mera observação:
milhares de bois da nossa geração
são bípedes.