sábado, 18 de fevereiro de 2006

Tudo o Mais

Jamais eu descansaria em paz
com o teu sonho dançando como um sonho
que ainda não virou realidade.

Porque de minha missão nada resta
que não permanecer ao teu lado
e ver teus olhos brilharem pela vitória.

Porque o teu sorriso me vem como um troféu
que cabe perfeitamente em minhas mãos,
nem demasiadamente leve e nem mais pesado.

Jamais eu escreverei o meu último poema
enquanto não houver feito em ti toda a alegria
que cabe no teu sonho grande e eterno.

Separação

Escuta aqui, dona Inspiração,
a senhora poderia conceder-me uma trégua?
Estou cansada, já não agüento mais
esta história de frases boiando pela minha cabeça.
Precisa mesmo ficar me dizendo o tempo todo
que um besouro ou um raio ou um bêbado
podem me render uma poesia?
Eu poderia por acaso ler o meu livro em paz
sem ficar pensando que seria aquele assunto
um ótimo poema?
Escuta, vamos dar um tempo,
que eu não consigo mais sustentar a nossa relação.
Eu não tenho tempo suficiente para toda esta atenção
e depois você fica aí, amuada,
quieta pelos cantos, emudecida,
querendo não atender o meu pedido quando eu preciso,
me deixando assim perdida à toa
Não, não pode ser,
isso só pode ser egoísmo de sua parte
O tempo todo, o tempo todo,
sem me deixar escovar os dentes sossegada!
Então podemos fazer assim:
eu me sento no chão, com papel e caneta,
e vem a senhora com a sua palmatória,
e fazemos um lindo ditado com todas estas frases
que agora estão aqui dançando e dançando e dançando
e deixo meus afazeres por sua conta
eu largo tudo, me sento abandonada aos seus pés.
É isso que deseja, senhora ameaçadora,
jogando estas palavras como quem diz
“pegue-as agora ou vou jogá-las fora,
vou apagá-las para sempre
vou fazer delas borboletas mortas”?
Estou extenuada, mórbida, sonolenta,
vamos dar um tempo, vamos dar um tempo até amanhã
e então a gente volta a conversar
porque agora estou farta, zonza, rebelde,
não quero mais discutir a nossa relação.

Best Seller

A minha inquietude é sempre crucial
o que fazer para que tudo seja perfeito
o trabalho, a comida, a sobremesa,
o sexo, o sorriso, o cafuné
o texto, a canção, a paciência
tudo aquilo que deve ser perfeito
e mais ainda, e além de tudo
o que fazer para ser perfeita
a minha poesia?
Teia de aranha na folha branca
tecida, tecida,
sob profundo perfeccionismo
será perfeita?
A minha dúvida é terrível e ameaçadora
espelho, espelho meu,
haverá poeta mais sentimental e tolo
do que eu?
Não pode ser
não deve haver
porque, veja bem,
a minha poesia é uma coisa assim que tanto me apraz
eu, fã de mim mesma,
que me desmancho em ler e reler
e me pergunto por quê não?
A dúvida é iminente e mesmo assim
por quê não?
Escuta, Deus, por quê não?
Então me inspire a palavra certa
e ponha na minha mão um plim de varinha mágica
e faz nascer aqui na minha ilusória perfeição
um Best Seller