terça-feira, 12 de setembro de 2006

Poema por um tempo que não deixa o poema nascer

Há muitos anos trago um Poema dentro de mim.
Algumas rugas começam a nascer no meu rosto
e o colapso da vida me aparece nos olhos.
O poema não nasce.
Talvez, se a turbulência cessasse
se as borboletas voassem com maior brandura;
Talvez, se os motores todos se consumissem
e todas as vozes se calassem
nasceria então, talvez, o meu Poema.
Mas não há tempo para ele.
Ele sente o medo do século tenebroso,
das páginas amarelas que ninguém leu.
Eu penso
"Venha, meu querido Poema,
que talvez amanhã se esvaia meu último sopro de vida
e então, quem saberá que te gerei?"
Mas a minha própria presença ele teme.
Eu, que não sinto o ar puro em meus pulmões,
que me entreguei, devassa,
ao desarrumado cotidiano da modernidade.
Eu que não observo a forma das flores
que esqueço de olhar nos olhos
que passo pelos dias sem cantarolar uma cantiga
Eu que permeio de lamentos as palavras que eram livres
que esqueço o valor de um abraço,
sou eu quem o assombra, com tanta insensibilidade.
Agora percebo que preciso respirar de novo
e me descuido das nuvens negras, esqueço a noite
e desapercebo da tempestade desta grande evolução.
Agora eu penso que é preciso observar a forma das flores.
Agora eu tiro de mim um instante de silêncio
para que este Poema se liberte
e nasça, e viva fora de mim.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que lindo, Patrícia.
Adorei!
Há quanto tempo você o escreveu?
Parabéns!