(2003)
Acho que se chamava
Artêmio
mas
eu não eu podia perguntar
se ele me fitasse seria
enlace
aquela coisa difícil de
escapar
de
conter, de controlar
de repente, tudo me
olhava
me
perseguia, me dominava
eu não perguntei o nome
dele
eu não podia
porque o mundo tinha olhos e nos
via
eu nem
me permitia
beijar a sua mão
como forma de
gratidão
nem dizer que ele era meio
mágico
que
ele tinha amanhecido mais fantástico
eu não podia nem dizer meu
endereço
eu
não podia eu não podia
dizer de verdade aquilo que eu
sentia
de
repente tudo era suspeito
as mesas as cadeiras as flores do
canteiro público
Acho que era esse o nome
dele
Artêmio era um nome um pouco
estranho
bem que eu queria ter
perguntado
mas você entende, eu não
podia
ele
me olhava, eu sorria
eu queria dizer mais, mas não
podia.
quarta-feira, 29 de janeiro de 2014
segunda-feira, 27 de janeiro de 2014
Explicação
(1998)
Quem poderá explicar o verso que escrevi?
Encontrar o sentido, a origem, a meta?
E se eu versejar:
“Chorei.”
Quem saberá meu motivo real?
Se é minha lágrima histérica
romântica, melancólica,
política
ou de amizade, ou de luto
ou de doença, ou de espanto
ou de simples pranto
ou de desencanto?
Não lamente nem cante. Não grite.
Não tente entender um poeta:
há bem mais de sete faces em cada verso.
Meu verso é raro; não inoportuno.
Quem poderá explicar o verso que escrevi?
Encontrar o sentido, a origem, a meta?
E se eu versejar:
“Chorei.”
Quem saberá meu motivo real?
Se é minha lágrima histérica
romântica, melancólica,
política
ou de amizade, ou de luto
ou de doença, ou de espanto
ou de simples pranto
ou de desencanto?
Não lamente nem cante. Não grite.
Não tente entender um poeta:
há bem mais de sete faces em cada verso.
Meu verso é raro; não inoportuno.
domingo, 26 de janeiro de 2014
Correnteza
(1999)
Há alguns anos tu choves sobre os meus cabelos.
Gotas, gotas,
incontáveis gotas escorrem pela minha pele.
Agora estou sentada à beira do mundo
contemplando, calada,
os vestígios que deixaste.
Teus rastros na poeira estão extintos,
teus lábios são os meus olhos, cerrados.
A tua chuva chove em mim todo este tempo
Me lava, me leva
me deixa à mercê da correnteza selvagem.
A tua chuva tirou minha base forte,
meus pés buscam em vão um apoio estável.
Tu choves, choves constantemente,
amanheço e adormeço sob tuas gotas,
minhas certezas diluídas na umidade.
A tua chuva não cessa, por mais que eu lhe peça;
agora estou me afogando na enchente.
Mas te aviso, te aviso que pares:
o passado, é em vão,
tua chuva não lava.
Há alguns anos tu choves sobre os meus cabelos.
Gotas, gotas,
incontáveis gotas escorrem pela minha pele.
Agora estou sentada à beira do mundo
contemplando, calada,
os vestígios que deixaste.
Teus rastros na poeira estão extintos,
teus lábios são os meus olhos, cerrados.
A tua chuva chove em mim todo este tempo
Me lava, me leva
me deixa à mercê da correnteza selvagem.
A tua chuva tirou minha base forte,
meus pés buscam em vão um apoio estável.
Tu choves, choves constantemente,
amanheço e adormeço sob tuas gotas,
minhas certezas diluídas na umidade.
A tua chuva não cessa, por mais que eu lhe peça;
agora estou me afogando na enchente.
Mas te aviso, te aviso que pares:
o passado, é em vão,
tua chuva não lava.
O Observador
(2006)
Tenho observado a vida e como ela passa.
O passado se perde na fumaça da lembrança
e agora remoemos nossas falhas e imploramos em silêncio
por perdão.
A verdade é sempre dolorida e, às vezes,
chega tarde.
Passamos nós num caminho oblíquo
não temos tempo para pensar
estamos por demais ocupados e sonolentos,
sobrevivemos.
Tenho observado a magia de algumas crianças.
Tenho me sentido dentro delas,
uma fada para atender os seus encantos,
como se pudesse tornar os seus encantos imortais.
Um dia me tiraram a magia:
a ciência mata o pouco encanto que temos.
Ah, como era bom acreditar no que não existia!
Essa coisa fantástica que vem nas crianças
e nos idosos e nos nossos pais
um pouco menos conhecedores da verdade
mas não menos sábios!
A verdade, esta verdade que vemos nos livros,
que nos instrui, que nos faz preparados,
que nos firma o intelecto,
esta é a verdade que mata a nossa poesia.
Queremos saber tudo, queremos saber mais,
queremos conhecer toda a tecnologia
queremos saber do ocultismo, a vida após a morte
queremos o porquê, a causa, a circunstância,
queremos as respostas que outrora não existiam,
e que por não existirem fizeram a vida tão mágica!
Tenho observado o quanto estamos desconcertados.
Tenho observado as rimas, que começam a fugir, assustadas.
Tenho observado as novas cifras, um tanto repetitivas;
as novas crianças, um tanto alienadas;
as novas poesias, um tanto severas, um tanto esperançosas.
Tenho observado a vida e como ela passa.
O passado se perde na fumaça da lembrança
e agora remoemos nossas falhas e imploramos em silêncio
por perdão.
A verdade é sempre dolorida e, às vezes,
chega tarde.
Passamos nós num caminho oblíquo
não temos tempo para pensar
estamos por demais ocupados e sonolentos,
sobrevivemos.
Tenho observado a magia de algumas crianças.
Tenho me sentido dentro delas,
uma fada para atender os seus encantos,
como se pudesse tornar os seus encantos imortais.
Um dia me tiraram a magia:
a ciência mata o pouco encanto que temos.
Ah, como era bom acreditar no que não existia!
Essa coisa fantástica que vem nas crianças
e nos idosos e nos nossos pais
um pouco menos conhecedores da verdade
mas não menos sábios!
A verdade, esta verdade que vemos nos livros,
que nos instrui, que nos faz preparados,
que nos firma o intelecto,
esta é a verdade que mata a nossa poesia.
Queremos saber tudo, queremos saber mais,
queremos conhecer toda a tecnologia
queremos saber do ocultismo, a vida após a morte
queremos o porquê, a causa, a circunstância,
queremos as respostas que outrora não existiam,
e que por não existirem fizeram a vida tão mágica!
Tenho observado o quanto estamos desconcertados.
Tenho observado as rimas, que começam a fugir, assustadas.
Tenho observado as novas cifras, um tanto repetitivas;
as novas crianças, um tanto alienadas;
as novas poesias, um tanto severas, um tanto esperançosas.
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
O cheiro que dói
O vento traz então aquele cheiro
de saudade, das flores amarelas,
do bálsamo,
do perfume que não apraz
Aquele cheiro que me leva a ti,
minha querida lembrança branca
um pouco cinza, um pouco triste,
apenas suavizada pela imagem que não se apaga
do teu rosto,
sereno.
segunda-feira, 13 de janeiro de 2014
Pousada dos Anjos
Porque o belo é tudo aquilo
que o faz vê-lo
além do elo dos olhos
É o que transcende, o puro,
seja branco, amarelo,
a cor que desejar entendê-lo
Porque o belo, o mais belo,
é o que, num instante, te admira,
no outro, a entretê-lo,
de repente te suspira:
a vida respira!
Aspiro e levo comigo
para onde desejar expirá-lo:
aspiro o puro, o branco, amarelo,
celestial e simplesmente
belo.
- Canela/RS, 14-01-2014
que o faz vê-lo
além do elo dos olhos
É o que transcende, o puro,
seja branco, amarelo,
a cor que desejar entendê-lo
Porque o belo, o mais belo,
é o que, num instante, te admira,
no outro, a entretê-lo,
de repente te suspira:
a vida respira!
Aspiro e levo comigo
para onde desejar expirá-lo:
aspiro o puro, o branco, amarelo,
celestial e simplesmente
belo.
- Canela/RS, 14-01-2014
Aquele amor
Aquele amor me fascinava,
me assustava, me seduzia,
me parecia a coisa exata que eu queria.
Aquele amor me pretendia
me cercava, eu, arredia;
me acordava no meio da noite fria.
Aquele amor me dopava,
me transcendia, me transpirava,
me distanciava de tudo que eu temia.
Aquele amor que eu adormecia
que eu rejeitava, eu me escondia,
eu me encarava e ele me aparecia.
Aquele amor que eu hesitava
eu duvidava, estremecia,
eu me entregava, eu me rendia.
Aquele amor que eu sonhava
que eu pensava que não existia
aquele amor... me acontecia.
Aquele amor que me ressuscitava,
transbordava em mim a poesia.
Aquele amor era um amor que se expandia.
Aquele amor,
perpetuava.
me assustava, me seduzia,
me parecia a coisa exata que eu queria.
Aquele amor me pretendia
me cercava, eu, arredia;
me acordava no meio da noite fria.
Aquele amor me dopava,
me transcendia, me transpirava,
me distanciava de tudo que eu temia.
Aquele amor que eu adormecia
que eu rejeitava, eu me escondia,
eu me encarava e ele me aparecia.
Aquele amor que eu hesitava
eu duvidava, estremecia,
eu me entregava, eu me rendia.
Aquele amor que eu sonhava
que eu pensava que não existia
aquele amor... me acontecia.
Aquele amor que me ressuscitava,
transbordava em mim a poesia.
Aquele amor era um amor que se expandia.
Aquele amor,
perpetuava.
Metaforize-se
Onde se lê
- vê-se
leia-se
- e se fosse?
Entre a flor colhida
e a flor que cresce
há tanta pressa
e tanta vida
e tanta prece!
Leia-se:
e se fosse?
Metaforize-se.
- vê-se
leia-se
- e se fosse?
Entre a flor colhida
e a flor que cresce
há tanta pressa
e tanta vida
e tanta prece!
Leia-se:
e se fosse?
Metaforize-se.
sábado, 4 de janeiro de 2014
Cacofonia
Não mais que um eco
Não mais que um sonho
Não mais que um fogo
Não mais que um ego
Não mais que um tanto
Não mais que um ato
Não mais que um canto
Não mais que um fato
Não mais que tudo
Não mais que sós
Não mais que o mundo
Não mais que nós
Não mais que um sonho
Não mais que um fogo
Não mais que um ego
Não mais que um tanto
Não mais que um ato
Não mais que um canto
Não mais que um fato
Não mais que tudo
Não mais que sós
Não mais que o mundo
Não mais que nós
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