Fui buscar minhas rimas com o Senhor Inquisidor.
Estavam apreendidas no calabouço,
úmidas, mofadas, completamente à mercê das paredes infectadas
acorrentadas, torturadas porque não confessavam sua culpa.
Foram capturadas enquanto falavam de liberdade.
As minhas rimas eram doces meninas que brincavam inocentemente
e foram acusadas de infringir a lei
pobres meninas diabólicas e tolas
hereges, pecadoras, mantidas incomunicáveis.
Oh, tanto sofri sem as minhas meninas!
Iriam acender a fogueira, avisaram-nas,
e elas, insontes, calaram-se de repente
e se lavaram de pranto e murcharam silenciosamente.
“Levarei as meninas!”, eu disse ao Inquisidor.
Arrebatei suas chaves e abri as portas
abjurei-o por caluniar minhas pobres crianças
peguei-as ao colo, sujas, sonolentas,
levei-as para casa, ensinei-lhes a lição,
e lhes abençoei com a eternidade.
“Cada coisa no seu tempo, minhas meninas.
Sejam eternas e venham depois de mim,
fiquem quietas para não despertar o Inquisidor,
e um dia enfim, quando vier o amanhã,
contem para todos o que é a Liberdade.”
Vamos aguardar o amanhã.
Por enquanto, podemos ser flagrados pelo Inquisidor.
* Grego. Heresia: escolha, escola filosófica.
segunda-feira, 16 de janeiro de 2006
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