domingo, 27 de outubro de 2013

CRU-ZE-NA

Diarista em casa, apartamento novo, primeira vez que os vidros do apartamento seriam limpados, cheios de resquícios da construção: cimento, massa corrida, cola dos adesivos que vieram nos vidros novos. O trabalho foi árduo, e a diarista não ficou satisfeita com o resultado do próprio trabalho:

- Limpei, limpei, mas olha só, não saiu tudo. A gente precisa mesmo é de cruzena, que aí sim vai sair tudo.

Franzi a testa, fiz aquela cara de quem entende tudo do mundo dos produtos de limpeza e nunca ouviu um pio sequer sobre esse tal produto.
- Cruzena, Josefa? Isso é um nome de produto?!
Ela me olhava com aquela cara de "isso mesmo", fazendo sinal de aprovação com a cabeça.
- Nossa, não conheço esse produto! Mas onde se compra?

Agora era a vez da Josefa franzir a testa e me indagar, com um incontestável ar de estupefação.
- Ué, no mercado! Você não conhece Cruzena?!

Não, eu não conhecia Cruzena. Silabei:
- CRU-ZE-NA?
- Isso!

Peguei um papel, escrevi em letras de forma, mostrei:
- Assim?
- Isso!

Fim de semana, hora das compras, dividi a tarefa com o Henrique, no corredor dos produtos de limpeza:
- Amor, me ajuda a procurar: a Josefa pediu para comprarmos Cruzena para limpar os vidros. Nunca vi, vamos ver se tem aqui!

E veio então a terceira pessoa a franzir a testa nessa história, depois de uma breve olhada pelas prateleiras:
- Patrícia, Cruzena? Ela não quis dizer QUEROSENE?
- Não, é Cruzena mesmo. Olha aqui, eu anotei, pedi pra ela conferir o nome, é CRU-ZE-NA mesmo. Vamos procurar.

Não encontramos. O Henrique insistiu:
- Tenho quase certeza de que ela quis dizer "querosene". Já ouvi muita gente falando "querosene" de várias formas erradas diferentes!

E eu tinha querosene em casa, que eu usava para lavar os pincéis na hora de pintar telas. Estava guardada em separado dos produtos de limpeza, no armário fechado junto com os pincéis e tintas a óleo. Separei meu litro de querosene e pensei: vamos ver então.

Quando a Josefa chegou, passei as instruções do dia e finalizei com o litro de querosene na mão:
- Josefa, era isso que você queria para limpar os vidros?

E ela com aquele ar feliz, de quem vê o papai noel, de quem finalmente deixaria os vidros do jeitinho que ela gostava:
- Iiiiiiissooooooo!

A busca pela Cruzena foi encerrada, sem maiores comentários a respeito, com aquele riso segurado e solto pra dentro, de quem imagina a nuvem de pensamento da Josefa quando eu disse que não conhecia Cruzena:
"Só tem que ser dondoca, cruiz credo! Não acredito que essa moça nunca viu Cruzena na vida!"


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