É hora de tirar um velho brinquedo da gaveta:
as mãos acariciam e afagam uma vida nova.
E tudo é novo, novos são os ares da alcova,
magia nascendo de uma forma tão discreta.
De repente lágrimas brotando docemente,
molhando o sorriso sutil, incontido, surpreso.
E pensa no rostinho que virá, tão indefeso
pensa no futuro, sente calma, sente medo.
E pensa a cor dos olhos, dos cabelos, nas mãozinhas...
Pensa na primeira letra que aprenderá na escola.
Pensa-o menino, correndo, jogando bola;
Pensa-a menina, brincando de casinha.
Imagina o tom do choro, a clareza do sorriso
Imagina a profissão... Será doutor? Será artista?
E compra o primeiro xale, escolhe o nome numa lista...
A pele está mais bonita, o gesto está mais preciso.
E um mundo inteiro se faz dentro daquela barriga.
Nasce um sonho, uma esperança, uma doce companhia.
O tempo passa, a espera cresce, e põe mais cor no seu dia
Ensaia um abraço, ensaia uma velha cantiga.
E cá está, poesia pura, arte enternecida,
Menina-mulher, mãezinha maravilhada.
Como disse o poeta numa frase bem pensada,
“a gente nasce várias vezes na vida”.
(2005)
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
Interiorizada
Me vem com a chuva
me pede um momento
me suplica
Me bate à porta, me pede licença
algo me grita
não permita, não permita
Me sopra o rosto, me bate
com delicadeza
me atiça
Me diz sou sua,
estou nua, estou alva,
estou viva
algo me incita
a ceder
não evite, não evite,
garoa te toca
Me vem quente, quieta
atraente
um quase sussuro
me toque, me toque,
se deleite
Quadro em branco
silêncio, sofá vazio
Chova, chova, me mova
a ouvir
a mim mesma.
me pede um momento
me suplica
Me bate à porta, me pede licença
algo me grita
não permita, não permita
Me sopra o rosto, me bate
com delicadeza
me atiça
Me diz sou sua,
estou nua, estou alva,
estou viva
algo me incita
a ceder
não evite, não evite,
garoa te toca
Me vem quente, quieta
atraente
um quase sussuro
me toque, me toque,
se deleite
Quadro em branco
silêncio, sofá vazio
Chova, chova, me mova
a ouvir
a mim mesma.
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
Ausência
Meu amor,
não me peça para não doer
não me peça para não querer
que o sol ressurja no céu gris
se teu rosto não me aparecer
não me peça para ser feliz
não me queira ver abrir em flor
se teu cheiro voa noutro vento
não me peça pra mudar meu jeito
de querer teu sopro sempre perto
de fuçar, virar o teu espaço
de querer te tatuar com a minha cor
não me peça para não enlouquecer
sem a força do teu braço
não me pregue essa peça
não me peça, meu amor.
não me peça para não doer
não me peça para não querer
que o sol ressurja no céu gris
se teu rosto não me aparecer
não me peça para ser feliz
não me queira ver abrir em flor
se teu cheiro voa noutro vento
não me peça pra mudar meu jeito
de querer teu sopro sempre perto
de fuçar, virar o teu espaço
de querer te tatuar com a minha cor
não me peça para não enlouquecer
sem a força do teu braço
não me pregue essa peça
não me peça, meu amor.
Respiração
Respira, revira
cortinas da alma,
ventila
Respira, retira
ar das lembranças
inspira
Respira,
estira velhos sonhos
na esteira do dia
admira
Respira
prefira, amor,
luz, cor.
Delira.
Respira, suspira.
cortinas da alma,
ventila
Respira, retira
ar das lembranças
inspira
Respira,
estira velhos sonhos
na esteira do dia
admira
Respira
prefira, amor,
luz, cor.
Delira.
Respira, suspira.
A Casa da Nona
Desconstruíram, há alguns dias, a casa da minha nona. Simples assim, como se fosse feita de pecinhas de montar. Eu, italiana das boas, não tenho vó – porque bom italiano não tem vó, tem nona. E a casa da minha nona foi desconstruída.
Quando eu era criança, pensava que a casa da nona era o melhor lugar do mundo. O paraíso, de acordo com conceito infantil de paraíso que eu supunha. Ou talvez nem tão infantil: a cada dia me convenço de que o paraíso realmente deve ser uma grande casa da nona.
Meu paraíso de criança ficava no interior de uma cidade pequena do interior e era realmente grande, proporcionalmente ao tamanho que eu tinha e mesmo que tenho. Já de chegada, estava abrigado em um grande terreno fechado com tela de arame, com um grande portão de metal, que também servia de balanço quando a nona não estava olhando. Chegar até lá já foi muito difícil, mas nada que o pai não resolvesse colocando correntes nos pneus do fusca pra passar o barro. Depois veio o asfalto rural e as correntes foram aposentadas, e nessa época a casa da nona já não era o paraíso – porque eu já estava grande o suficiente para eleger novos paraísos. Mas ainda era a casa da nona, como foi até ontem, até hoje, até sempre na minha lembrança.
A nona gostava muito de ter flores na sua casa. Na frente, rente à tela de arame que compunha a cerca, a nona cultivava com perfeição centenas de flores de todas as cores e espécies, sempre preferindo as roseiras. Ao lado, aos fundos e dentro da casa da nona havia muitas flores de variadas formas, plantadas em vasos, potes de margarina e latas de tinta. Tudo era lindo e perfeito com o dedo da nona. Um grande pé de beijinho ficava ao lado da varanda: era uma diversão à época de sementes, porque permitia horas estourando aqueles balõezinhos de sementes.
A entrada da casa era uma grande varanda em L, como mandava o figurino das casas de nonas italianas da redondeza. A casa toda em madeira, com um grande porão, pintada em azul com marrom, as janelas venezianas de madeira com aqueles antigos cavalinhos de metal fixados na parede, do lado de fora, para segurá-las abertas. Uma legítima casa de nona italiana.
Tudo era enorme na casa da nona. A cozinha, enorme, tinha no canto um fogão à lenha, agora novinho, recentemente trocado pela nona, e uma escada que dava para o porão. A sala, também enorme, era ornada pelas samambaias verdinhas da nona; na parede e na estante, muitas imagens dos santos dos quais a nona era devota, porta-retratos e um quadro com aquelas fotos antigas da família, com a nona e o nono bem no centro, no topo, e todos os demais dez filhos, meu pai e tios, abaixo, por ordem de idade. Eram necessários dois jogos de sofá para contornar a sala inteira. Mais tarde, com muito orgulho, a nona colocou na parede da sala um óleo sobre tela pintado por mim. Da sala se estendia um corredor enorme com pelo menos cinco quartos, todos enormes, que tinham janelas enormes, muito ventilados, todos com cheirinho de casa da nona. Num cantinho fechado do porão ficavam a lavanderia e o banheiro, e lá fora mais um cantinho fechado onde o nono guardava o vinho, o salame, as cebolas e todas as outras coisas valiosas que produzia. E o carro do nono ficava ali, também, no porão. Mas muitas outras coisas ficavam no porão, porque um nono italiano guarda uma vida inteira no porão: as suas ferramentas penduradas em pregos pela parede, o trator, o cesto de taquara, a enxada e a foice. Ao redor da casa ainda se espalhavam outras preciosidades, como o lago com peixes, o chiqueiro, o parreiral, a horta enorme com pomar enorme, o potreiro, os pés de butiá, de goiaba, de figo da índia.
No meu paraíso de criança, nono e nona acordavam cedinho e acendiam o fogo no fogão à lenha, conversando um pouco, tomando o primeiro chimarrão do dia. Depois, arrumavam uma grande mesa de dez lugares, onde sentávamos, mesmo que só nós três, e tomávamos café com leite fresquinho, pão da nona, assado no forno à lenha, com nata novinha recém colhida. Para o lanche, a nona sempre provia umas latas de amendoim cri-cri para os netos – dos quais eu preferia comer só o açúcar que ficava no fundo da lata, com a colher, sentada na escadinha de entrada da casa. A sopa do jantar começava a ser preparada logo no cair do sol, pra não atrapalhar à hora da missa na TV, à noite. Quando queriam brigar, como todo bom casal de nonos italianos, a língua utilizada era mesmo o italiano, nos impossibilitando qualquer aprendizado de palavrão ou outra coisa ruim.
Quando criança, acho que passei mais finais de semana na casa da nona que na minha casa. O pai, ainda às sextas-feiras, apressava a saída do trabalho e da nossa escola para fugir para o sítio. Eu ia feliz, muitas vezes com a bicicleta de rodinhas carregada na Chevy – que agora substituía o fusca. A hora de voltar era sempre triste, porque era triste deixar o paraíso. Na cidade não tinha cheiro de casa da nona.
Muitas vezes pensei como seria para meus filhos o contato com a casa da minha nona, e imaginei que seria para eles um pouco menos paraíso do que foi para mim – até porque muitas coisas já haviam mudado por ali. Já não tinha mais as vacas, o leite e nata fresquinhos, a nona não tomava mais chimarrão nem café por causa dos problemas de estômago. Umas reformas colocaram um banheiro a mais na casa da nona, alguns eletrodomésticos mais modernos, decorflex no chão. Não tinha mais aquele assoalho de madeira que fazia barulho ao pisar. A nona queimou os livros velhos que estavam na estante de um dos quartos, porque o excesso de netos estava gerando problemas com os livros. Os beijinhos do lado da varanda foram removidos.
Muitas coisas mudaram no meu paraíso com o passar dos mesmos anos que me fizeram mudar o conceito de paraíso, mas aquela continuava sendo a casa da minha nona. O passar de vinte e poucos anos realmente muda tudo, inclusive os nonos e a sua casa-paraíso. A casa da nona, um templo sagrado, um símbolo da minha vida, da vida dos meus irmãos, do meu pai, de toda a prole dos nonos. De repente, os nonos aceitam um convite de ir embora e vão, impulsionados por todos os fatos que mudaram, ao longo da vida deles, o seu conceito de paraíso. Os nonos vão embora! Simples assim. E a casa dos nonos é desconstruída, destruída, desmanchada, levada embora junto com eles.
Talvez, se os nonos tivessem sabido o quanto eram importantes, o quanto a casa da nona era importante, tivessem ao menos deixado ali a casa, senão a sua presença. Eu, com a correria da minha vida e todas as outras prioridades, me tornei uma neta ausente e não pude nunca dizer o quanto os nonos e a sua casa eram importantes. Estava devendo há vários meses uma visita à nona e, por conseqüência, à casa da nona – e agora é tarde para pelo menos uma dessas visitas. Talvez: uma palavra que preferencialmente deve ser evitada.
Desconstruíram a casa da minha nona: um choque, um susto, o fim de um pedaço da vida, o fim do sonho de levar os filhos à casa da minha nona, pedir para eles dormirem ouvindo os sapos no lago como eu ouvia, pedir a eles se também sentiam medo dos sapos; o início de uma necessidade de escrever, registrar, fazer algo para ajudar a me lembrar, de alguma forma, quando estiver velhinha e com a memória ruim, sobre como era o meu primeiro paraíso – aquele que talvez tenha sido o melhor paraíso de toda a minha vida, efetivamente.
Meu paraíso de criança ficava no interior de uma cidade pequena do interior e era realmente grande, proporcionalmente ao tamanho que eu tinha e mesmo que tenho. Já de chegada, estava abrigado em um grande terreno fechado com tela de arame, com um grande portão de metal, que também servia de balanço quando a nona não estava olhando. Chegar até lá já foi muito difícil, mas nada que o pai não resolvesse colocando correntes nos pneus do fusca pra passar o barro. Depois veio o asfalto rural e as correntes foram aposentadas, e nessa época a casa da nona já não era o paraíso – porque eu já estava grande o suficiente para eleger novos paraísos. Mas ainda era a casa da nona, como foi até ontem, até hoje, até sempre na minha lembrança.
A nona gostava muito de ter flores na sua casa. Na frente, rente à tela de arame que compunha a cerca, a nona cultivava com perfeição centenas de flores de todas as cores e espécies, sempre preferindo as roseiras. Ao lado, aos fundos e dentro da casa da nona havia muitas flores de variadas formas, plantadas em vasos, potes de margarina e latas de tinta. Tudo era lindo e perfeito com o dedo da nona. Um grande pé de beijinho ficava ao lado da varanda: era uma diversão à época de sementes, porque permitia horas estourando aqueles balõezinhos de sementes.
A entrada da casa era uma grande varanda em L, como mandava o figurino das casas de nonas italianas da redondeza. A casa toda em madeira, com um grande porão, pintada em azul com marrom, as janelas venezianas de madeira com aqueles antigos cavalinhos de metal fixados na parede, do lado de fora, para segurá-las abertas. Uma legítima casa de nona italiana.
Tudo era enorme na casa da nona. A cozinha, enorme, tinha no canto um fogão à lenha, agora novinho, recentemente trocado pela nona, e uma escada que dava para o porão. A sala, também enorme, era ornada pelas samambaias verdinhas da nona; na parede e na estante, muitas imagens dos santos dos quais a nona era devota, porta-retratos e um quadro com aquelas fotos antigas da família, com a nona e o nono bem no centro, no topo, e todos os demais dez filhos, meu pai e tios, abaixo, por ordem de idade. Eram necessários dois jogos de sofá para contornar a sala inteira. Mais tarde, com muito orgulho, a nona colocou na parede da sala um óleo sobre tela pintado por mim. Da sala se estendia um corredor enorme com pelo menos cinco quartos, todos enormes, que tinham janelas enormes, muito ventilados, todos com cheirinho de casa da nona. Num cantinho fechado do porão ficavam a lavanderia e o banheiro, e lá fora mais um cantinho fechado onde o nono guardava o vinho, o salame, as cebolas e todas as outras coisas valiosas que produzia. E o carro do nono ficava ali, também, no porão. Mas muitas outras coisas ficavam no porão, porque um nono italiano guarda uma vida inteira no porão: as suas ferramentas penduradas em pregos pela parede, o trator, o cesto de taquara, a enxada e a foice. Ao redor da casa ainda se espalhavam outras preciosidades, como o lago com peixes, o chiqueiro, o parreiral, a horta enorme com pomar enorme, o potreiro, os pés de butiá, de goiaba, de figo da índia.
No meu paraíso de criança, nono e nona acordavam cedinho e acendiam o fogo no fogão à lenha, conversando um pouco, tomando o primeiro chimarrão do dia. Depois, arrumavam uma grande mesa de dez lugares, onde sentávamos, mesmo que só nós três, e tomávamos café com leite fresquinho, pão da nona, assado no forno à lenha, com nata novinha recém colhida. Para o lanche, a nona sempre provia umas latas de amendoim cri-cri para os netos – dos quais eu preferia comer só o açúcar que ficava no fundo da lata, com a colher, sentada na escadinha de entrada da casa. A sopa do jantar começava a ser preparada logo no cair do sol, pra não atrapalhar à hora da missa na TV, à noite. Quando queriam brigar, como todo bom casal de nonos italianos, a língua utilizada era mesmo o italiano, nos impossibilitando qualquer aprendizado de palavrão ou outra coisa ruim.
Quando criança, acho que passei mais finais de semana na casa da nona que na minha casa. O pai, ainda às sextas-feiras, apressava a saída do trabalho e da nossa escola para fugir para o sítio. Eu ia feliz, muitas vezes com a bicicleta de rodinhas carregada na Chevy – que agora substituía o fusca. A hora de voltar era sempre triste, porque era triste deixar o paraíso. Na cidade não tinha cheiro de casa da nona.
Muitas vezes pensei como seria para meus filhos o contato com a casa da minha nona, e imaginei que seria para eles um pouco menos paraíso do que foi para mim – até porque muitas coisas já haviam mudado por ali. Já não tinha mais as vacas, o leite e nata fresquinhos, a nona não tomava mais chimarrão nem café por causa dos problemas de estômago. Umas reformas colocaram um banheiro a mais na casa da nona, alguns eletrodomésticos mais modernos, decorflex no chão. Não tinha mais aquele assoalho de madeira que fazia barulho ao pisar. A nona queimou os livros velhos que estavam na estante de um dos quartos, porque o excesso de netos estava gerando problemas com os livros. Os beijinhos do lado da varanda foram removidos.
Muitas coisas mudaram no meu paraíso com o passar dos mesmos anos que me fizeram mudar o conceito de paraíso, mas aquela continuava sendo a casa da minha nona. O passar de vinte e poucos anos realmente muda tudo, inclusive os nonos e a sua casa-paraíso. A casa da nona, um templo sagrado, um símbolo da minha vida, da vida dos meus irmãos, do meu pai, de toda a prole dos nonos. De repente, os nonos aceitam um convite de ir embora e vão, impulsionados por todos os fatos que mudaram, ao longo da vida deles, o seu conceito de paraíso. Os nonos vão embora! Simples assim. E a casa dos nonos é desconstruída, destruída, desmanchada, levada embora junto com eles.
Talvez, se os nonos tivessem sabido o quanto eram importantes, o quanto a casa da nona era importante, tivessem ao menos deixado ali a casa, senão a sua presença. Eu, com a correria da minha vida e todas as outras prioridades, me tornei uma neta ausente e não pude nunca dizer o quanto os nonos e a sua casa eram importantes. Estava devendo há vários meses uma visita à nona e, por conseqüência, à casa da nona – e agora é tarde para pelo menos uma dessas visitas. Talvez: uma palavra que preferencialmente deve ser evitada.
Desconstruíram a casa da minha nona: um choque, um susto, o fim de um pedaço da vida, o fim do sonho de levar os filhos à casa da minha nona, pedir para eles dormirem ouvindo os sapos no lago como eu ouvia, pedir a eles se também sentiam medo dos sapos; o início de uma necessidade de escrever, registrar, fazer algo para ajudar a me lembrar, de alguma forma, quando estiver velhinha e com a memória ruim, sobre como era o meu primeiro paraíso – aquele que talvez tenha sido o melhor paraíso de toda a minha vida, efetivamente.
terça-feira, 16 de agosto de 2011
2009 - 3º Lugar Concurso Fco Beltrão de Literatura
Televisão
Patrícia Moresco
Eu vi todos os tipos de rituais
que sacrificam por uma glória ilusória
Eu vi todas as cenas de traição
de dentro da televisão
Eu vi um menino perdido sem eira
engatilhando um troféu debaixo da axila
sem medo da morte nem da vida
Eu vi um menino dentro da barriga
que não pôde fugir da briga
Eu vi um menino que caiu da beira
do risco iminente
caiu, mais um réu displicente
Eu vi um outro lado bem longe
da minha cidade
um lugar desprovido de liberdade
pólvora e explosão
e uma guerra de leis
fechando uma estrada de ligação
Eu vi uma bala invadindo o coração
eu vi muitos corpos largados no chão
e um tanto de corrupção
Eu vi tanta dor, tanto medo
e tanta devastação
Vamos dormir mais cedo
Por favor, por favor,
desligue a televisão.
Patrícia Moresco
Eu vi todos os tipos de rituais
que sacrificam por uma glória ilusória
Eu vi todas as cenas de traição
de dentro da televisão
Eu vi um menino perdido sem eira
engatilhando um troféu debaixo da axila
sem medo da morte nem da vida
Eu vi um menino dentro da barriga
que não pôde fugir da briga
Eu vi um menino que caiu da beira
do risco iminente
caiu, mais um réu displicente
Eu vi um outro lado bem longe
da minha cidade
um lugar desprovido de liberdade
pólvora e explosão
e uma guerra de leis
fechando uma estrada de ligação
Eu vi uma bala invadindo o coração
eu vi muitos corpos largados no chão
e um tanto de corrupção
Eu vi tanta dor, tanto medo
e tanta devastação
Vamos dormir mais cedo
Por favor, por favor,
desligue a televisão.
terça-feira, 9 de agosto de 2011
A culpa é do Sistema
À procura da poesia no interior de uma Analista de Sistemas
aninhada em alguma estrutura de seleção
em qualquer laço infinito não identificado
Enquanto aprendia sobre conectividade
e todas as lições de conexão cliente-servidor
me perdi de mim
Perdi nas estrelinhas dos campos as password
dos meus sistemas
Gerenciei os riscos dos projetos fictícios
esqueci como arriscar a rima
uma tolice - quanta tolice!
Para que rimas, pra que maior arte
que os diagramas UML?
Perdi meu verso, perdi meu código
secreto
meu protocolo de conexão interior
Minhas relações de herança e subordinação
minhas chaves primárias
meus diagramas de relacionamento
Quero fazer um novo projeto de mim
ligar meus dados interiores à interface externa
gerenciar permissões e o risco de acesso aos dados
sem bloqueios explícitos
Cessar qualquer repetição infinita,
simplicar, reduzir linhas de código
garantir a usabilidade em um design perfeito
garantir a arte
Quero me tornar esse sistema amigável
fácil de usar, estável
acessível
Eu quero ter de volta a minha alma
rodando em qualquer sistema operacional.
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