segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

De Pato Branco pra Pasárgada, daí

No tempo do Manuel Bandeira, ir-se embora pra Pasárgada era uma coisa bem mais romântica e pacífica. Era coisa como pegar uma condução ou um trem ou um navio, e no meio do caminho ir-se vendo, perplexo e apaixonado, a natureza ao redor e todo o seu querido burburinho. Tudo bem, vá lá: as próprias Pasárgadas de hoje não são como as de antigamente, e é preciso se contentar com um pouco menos. Mas chegar até lá... ah! Chegar até lá é que é o grande problema.
Vou comprar minha passagem pra Pasárgada, logo pela manhã:
- Quanto tempo de viagem?
- Em torno de quatro horas, porque é pinga-pinga.
E a moça me olha, séria.

Tudo bem, estou em paz. A manhã começa e tenho uma semana toda pra ficar zén lá na pequena, tranquila e solitária Pasárgada querida. Mas pinga mesmo, mal sabia ela, era coisa cujo cheiro eu ia sentir num bom trecho da viagem.

A estrada que me leva pra Pasárgada anda cheia de buracos e não tem acostamento, e vai num empurra-empurra que torna o pinga-pinga bem mais molhado e barulhento, quase uma goteira enorme. Entre golpes de bolsas e mochilas e um esfrega de grandes nádegas que passam pelo corredor estreito, meu braço direito começa a ficar dormente.

"Leia, Patrícia; leia o livro!" Como ler o livro? Bem acima da minha cabeça toca uma canção que deve ter nascido em qualquer lugar desse mundo, menos em Pasárgada.

- Entón, eu nón sei se ela tá mió ou nón.
- Mas será que não vai miorá nunca?
- Tomara que miore, porque fica lá sofrendo, daí.
- É, daí fica cada dia pió.

Indo pra Pasárgada, o ponteiro do relógio anda mais devagar. Das quase quatro horas previstas, acho que me nasceram pelo menos uns dois cabelos brancos.

Agora, já à salvo, inteira e descansada, chego à conclusão de que lá em Pato Branco é que deve ser mesmo a minha Pasárgada. Lá, quando chego no alto da Tupy, vejo jardins sempre floridos e luminárias antigas. E, no fim da tarde, os homens regam as flores. Lá em Pato Branco eu vejo um movimento pacífico de pessoas, umas cantigas de coral na Praça e um tobogã inflável gigante cheio de crianças.

Sexta-feira, ao meio-dia, devo voltar pra Pato Branco. Ou será para Pasárgada? Então eu troco o título deste texto, e agora fica: de Pasárgada pra Pato Branco, daí.
...

Um comentário:

Unknown disse...

Aluna querida!
Voltar para Passárgada...Cada um de nós, na essência própria, carrega a vontade do encontro consigo mesmo e com tudo que lhe dê sentido.
Passárgada, Pato Branco, eu, você, nossos amigos,colega, familiares, bichinhos de estimação, nossos quadros, livros e violão são microcosmos sagrados.
Lindo o teu texto.
Bjos