Ainda se o pensamento
Me levasse ao mar
Mas nem ao mar,
nem amor.
Inútil tanto pensar.
P.M.
por Patrícia Moresco
Ainda se o pensamento
Me levasse ao mar
Mas nem ao mar,
nem amor.
Inútil tanto pensar.
P.M.
Foi lá que perdemos nosso olhar, eu sei,
onde perdemos nosso abraço
onde esmoreceu o enlace das pernas
onde secou o suor
e os joelhos pararam de tremer.
Foi lá.
Lá, eu vi,
onde o braço firme se fez superficial
sem o entusiasmo, sem a ânsia
de segurar forte e para sempre perto.
Foi onde os lábios mudaram o movimento.
Foi lá, tudo no mesmo momento,
longo, construído aos poucos,
esse momento mais longo que existiu.
Lá, onde perdemos o olhar,
perdemos a saudade,
o rubro das flores,
do sangue, da paixão.
Perdemos quase tudo,
quase tudo.
Enche o peito, inspira lentamente
É um suspiro
Pensamento longe, não sabe onde
No som a música de antes
Engole o choro,
não permite que escorra
Algo mais escorre
por dentro, por entre os dedos,
pelas nuvens que fita com olhos mansos
Espera pelo que não deve esperar
Voa aonde não deve voar
É tudo leve, tudo limpo
É tudo tão imenso
E ainda mais longínquo.
Fique assim, não se mova
Assim deitado como fazem as crianças
Assim ausente submerso no sonho
Quieto
E eu te envolvo com o meu momento
Sem barulhos, sem inquietações
Sem a ânsia da interrupção
Sem movimento
Sem nada.
Para mim, garçom,
por favor,
uma dose de mar
uma lua para decorar
Toque um silêncio
Vou sentar aqui
para ouvir
tudo me tocar