Noite especial, escolhemos uma bela e tradicional pizzaria para uma comemoração, com um certo nível de glamour, mas sem abrir mão da nossa amada pizza. Era a primeira vez naquele lugar.
Casa cheia, esperamos no bar até liberarem uma mesa, eu torcendo para que a mesa liberada fosse lá no fundo, onde tinha um lugar mais escuro e mais reservado. Chegou o maître:
- Por favor! - e apontou para uma mesa que ficava quase na porta do restaurante.
Frustração.
O ambiente era muito bonito, acolhedor, só esqueceram de tratar de uma coisa, que tanto me importa: a acústica. Eu não conseguia prestar atenção em outra coisa senão no barulho dos garfos batendo nos pratos, dos pratos batendo nos outros pratos, dos copos batendo nos pratos (?), dos copos batendo nos outros copos, dos garfos batendo nos outros garfos, no coro de vozes que ecoavam pelo ambiente. Foi subindo aquela ansiedade que doía no peito, mesmo com todos os comprimidos diários que me alimentam desde o meu acidente, há um ano.
Sentamos, abri o cardápio. As pizzas tinham nomes de gente, de coisas diversas, extremamente criativas - menos de pizza. Não dava para ter uma pizza chamada "Portuguesa"? Precisávamos ler a lista de ingredientes para ter noção sobre o que seria cada uma delas - um cansaço, pensei.
Ele comentou:
- A pizza de linguiça defumada não tem queijo!
Uma pizza sem queijo, Senhor! Onde se viu isso? Ah, é hábito paulista. E eu lá sou paulista? Eu queria ir embora, atravessar a cidade até aquele outro lugar para onde tínhamos imaginado ir, inicialmente. Ele achou que seria chato ir embora, e então ficou com a responsabilidade de escolher os sabores, até que decidimos, na forma simples e italiana de pedir pizza: calabresa e quatro queijos.
Uma coisa deveria ser certa: todo mundo saberia o que é uma pizza de calabresa e uma de quatro queijos, fosse qual fosse o nome.
Quando chegou o garçom para anotar o pedido, antes de deixá-lo falar, fiz aquela cara de sofrimento e implorei:
- Não teria alguma mesa em algum lugar mais reservado do salão, não assim NO MEIO DA PORTA?
Foi verificar, voltou com uma indicação. Olhei, mesa com dois lugares, lá no fundo, do lado de uma janela. Perfeito. Ao lado da nossa mesa, com um intervalo de espaço que mal permitia passar uma pessoa, outra mesa com dois lugares - vazia. Orei:
- Que esta mesa permaneça vazia, amém.
Mas a mesa ficou vazia por apenas alguns minutos. Por sorte, o casal da mesa ao lado falava em tom aceitável.
Fizemos então o pedido, conforme deliberado anteriormente:
- Calabresa e quatro queijos.
- Calabresa com ou sem cebola?
Podia ser com cebola.
Veja: foi apenas essa a pergunta com relação à pizza de calabresa. É importante memorizar essa informação.
Dentro de uma meia hora, veio o garçom com uma daquelas mesinhas de apoio onde colocam a pizza. Colocou a mesinha de apoio entre a nossa mesa e a mesa ao lado, e o espaço parecia ter sido pensado exatamente para permitir APENAS a introdução de uma dessas mesinhas. Era daqueles restaurantes nos quais o garçom domina a pizza (que fica na mesinha de apoio), e o garçom serve cada pedaço, a cada vez que vê seu prato vazio, com um espaço de tempo entre um pedaço e outro, como se dissesse:
- Ok, comeu seu primeiro pedaço, agora aguarde até que seja digerido. Pronto? Ok, vamos para o segundo pedaço.
Eu não gosto que ninguém domine a minha pizza. Quero cortar e comer só a borda de todos os pedaços, quero cortar um pedacinho de cada sabor, do tamanho que eu quiser. Quero comer um após o outro, não quero intervalos. Quero que o garçom apenas se ocupe de perguntar se a gente quer mais alguma bebida.
Mas o pior não era isso: era a mesinha de apoio. Aquilo estava me intrigando, porque não colocaram uma mesinha de apoio do outro lado da outra mesa. E o pior ainda não era isso: era a confirmação de que a mesinha seria dividida entre as duas mesas. Veio o garçom com duas tampas, colocadas uma ao lado da outra, na mesinha de apoio, só esperando chegarem AS DUAS PIZZAS.
Era absurdo! Comentei com meu marido:
- Vamos dividir a mesinha com eles???
Ele riu. Aquilo era um "sim, por quê?"
- Está rindo do quê? É como se estivéssemos na mesma mesa!!! Eles vão ficar vendo nossa pizza???
E se eles mexessem na nossa pizza? E vamos ter de olhar para eles se formos mexer na nossa pizza antes do garçom???
Só faltava eles dizerem "olá"! Humpf.
Tenso. E ele ria - e isso era mais tenso ainda.
Depois de quase uma hora, chegou a nossa pizza - antes da pizza dos vizinhos. E eles que não olhassem para a nossa pizza.
Para encerrar a saga, cortamos o primeiro pedaço da pizza de calabresa, a massa integral (que pedimos) seca e fina que não dava para fincar o garfo. E ele percebeu:
- A de calabresa não tem queijo!
A de calabresa não tinha queijo!!! A de calabresa não tinha queijo, a de calabresa não tinha queijo. Onde já se viu uma pizza de calabresa sem queijo???
O garçom chegou, para servir mais um pedaço de pizza (não precisávamos do seu trabalho). Mais uma vez, não aguentei:
- Estou frustrada com essa pizza de calabresa sem queijo!
- Ah, sim. A de calabresa não tem queijo. Mas nós temos a %$k& (falou o nome), que é de calabresa com queijo. A outra é a paulista, lá eles têm o hábito de não colocar queijo na pizza de calabresa. O garçom não perguntou para confirmar se de fato vocês queriam a de calabresa paulista original ou a com queijo?
Não, o garçom não perguntou. E a gente queria uma pizza de calabresa igual a todas as pizzas de calabresa do mundo, exceto a paulista.
Na saída, confirmamos no cardápio: a pizza cujo nome é "Calabresa" era aquela, de calabresa sem queijo. Quem mandou a gente pedir pelo nome comum?
Enfim, pelo menos ninguém mexeu na nossa pizza. Nem o garçom, que quando veio, na intenção de servir o terceiro pedaço, apenas recolheu a forma, que já estava vazia. Eu só queria não pagar a gorjeta, porque afinal de contas ninguém perguntou se a gente era italiano ou paulista - mas ele pagou, não me deu ouvidos.
Conta quitada, o garçom se foi, agradecendo.
Só faltava dizer, na saída, um boa noite!
Humpf.
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