Março, outono de mim
meu tempo, minha antologia
que me envelhece um ano em um dia
Minhas folhas colhidas
meu fim, meu começo
meu mar, minha intensa dor
meu imenso amor
meu interior tão denso
Meu março, esparso intervalo
em meu coração
Meu gargalo,
minha reconstrução.
Meu março, embora às vezes tão frio,
nunca leva o meu verão.
quinta-feira, 20 de março de 2014
domingo, 16 de março de 2014
Crônicas de Curitiba - Privacidade na Pizzaria
Noite especial, escolhemos uma bela e tradicional pizzaria para uma comemoração, com um certo nível de glamour, mas sem abrir mão da nossa amada pizza. Era a primeira vez naquele lugar.
Casa cheia, esperamos no bar até liberarem uma mesa, eu torcendo para que a mesa liberada fosse lá no fundo, onde tinha um lugar mais escuro e mais reservado. Chegou o maître:
- Por favor! - e apontou para uma mesa que ficava quase na porta do restaurante.
Frustração.
O ambiente era muito bonito, acolhedor, só esqueceram de tratar de uma coisa, que tanto me importa: a acústica. Eu não conseguia prestar atenção em outra coisa senão no barulho dos garfos batendo nos pratos, dos pratos batendo nos outros pratos, dos copos batendo nos pratos (?), dos copos batendo nos outros copos, dos garfos batendo nos outros garfos, no coro de vozes que ecoavam pelo ambiente. Foi subindo aquela ansiedade que doía no peito, mesmo com todos os comprimidos diários que me alimentam desde o meu acidente, há um ano.
Sentamos, abri o cardápio. As pizzas tinham nomes de gente, de coisas diversas, extremamente criativas - menos de pizza. Não dava para ter uma pizza chamada "Portuguesa"? Precisávamos ler a lista de ingredientes para ter noção sobre o que seria cada uma delas - um cansaço, pensei.
Ele comentou:
- A pizza de linguiça defumada não tem queijo!
Uma pizza sem queijo, Senhor! Onde se viu isso? Ah, é hábito paulista. E eu lá sou paulista? Eu queria ir embora, atravessar a cidade até aquele outro lugar para onde tínhamos imaginado ir, inicialmente. Ele achou que seria chato ir embora, e então ficou com a responsabilidade de escolher os sabores, até que decidimos, na forma simples e italiana de pedir pizza: calabresa e quatro queijos.
Uma coisa deveria ser certa: todo mundo saberia o que é uma pizza de calabresa e uma de quatro queijos, fosse qual fosse o nome.
Quando chegou o garçom para anotar o pedido, antes de deixá-lo falar, fiz aquela cara de sofrimento e implorei:
- Não teria alguma mesa em algum lugar mais reservado do salão, não assim NO MEIO DA PORTA?
Foi verificar, voltou com uma indicação. Olhei, mesa com dois lugares, lá no fundo, do lado de uma janela. Perfeito. Ao lado da nossa mesa, com um intervalo de espaço que mal permitia passar uma pessoa, outra mesa com dois lugares - vazia. Orei:
- Que esta mesa permaneça vazia, amém.
Mas a mesa ficou vazia por apenas alguns minutos. Por sorte, o casal da mesa ao lado falava em tom aceitável.
Fizemos então o pedido, conforme deliberado anteriormente:
- Calabresa e quatro queijos.
- Calabresa com ou sem cebola?
Podia ser com cebola.
Veja: foi apenas essa a pergunta com relação à pizza de calabresa. É importante memorizar essa informação.
Dentro de uma meia hora, veio o garçom com uma daquelas mesinhas de apoio onde colocam a pizza. Colocou a mesinha de apoio entre a nossa mesa e a mesa ao lado, e o espaço parecia ter sido pensado exatamente para permitir APENAS a introdução de uma dessas mesinhas. Era daqueles restaurantes nos quais o garçom domina a pizza (que fica na mesinha de apoio), e o garçom serve cada pedaço, a cada vez que vê seu prato vazio, com um espaço de tempo entre um pedaço e outro, como se dissesse:
- Ok, comeu seu primeiro pedaço, agora aguarde até que seja digerido. Pronto? Ok, vamos para o segundo pedaço.
Eu não gosto que ninguém domine a minha pizza. Quero cortar e comer só a borda de todos os pedaços, quero cortar um pedacinho de cada sabor, do tamanho que eu quiser. Quero comer um após o outro, não quero intervalos. Quero que o garçom apenas se ocupe de perguntar se a gente quer mais alguma bebida.
Mas o pior não era isso: era a mesinha de apoio. Aquilo estava me intrigando, porque não colocaram uma mesinha de apoio do outro lado da outra mesa. E o pior ainda não era isso: era a confirmação de que a mesinha seria dividida entre as duas mesas. Veio o garçom com duas tampas, colocadas uma ao lado da outra, na mesinha de apoio, só esperando chegarem AS DUAS PIZZAS.
Era absurdo! Comentei com meu marido:
- Vamos dividir a mesinha com eles???
Ele riu. Aquilo era um "sim, por quê?"
- Está rindo do quê? É como se estivéssemos na mesma mesa!!! Eles vão ficar vendo nossa pizza???
E se eles mexessem na nossa pizza? E vamos ter de olhar para eles se formos mexer na nossa pizza antes do garçom???
Só faltava eles dizerem "olá"! Humpf.
Tenso. E ele ria - e isso era mais tenso ainda.
Depois de quase uma hora, chegou a nossa pizza - antes da pizza dos vizinhos. E eles que não olhassem para a nossa pizza.
Para encerrar a saga, cortamos o primeiro pedaço da pizza de calabresa, a massa integral (que pedimos) seca e fina que não dava para fincar o garfo. E ele percebeu:
- A de calabresa não tem queijo!
A de calabresa não tinha queijo!!! A de calabresa não tinha queijo, a de calabresa não tinha queijo. Onde já se viu uma pizza de calabresa sem queijo???
O garçom chegou, para servir mais um pedaço de pizza (não precisávamos do seu trabalho). Mais uma vez, não aguentei:
- Estou frustrada com essa pizza de calabresa sem queijo!
- Ah, sim. A de calabresa não tem queijo. Mas nós temos a %$k& (falou o nome), que é de calabresa com queijo. A outra é a paulista, lá eles têm o hábito de não colocar queijo na pizza de calabresa. O garçom não perguntou para confirmar se de fato vocês queriam a de calabresa paulista original ou a com queijo?
Não, o garçom não perguntou. E a gente queria uma pizza de calabresa igual a todas as pizzas de calabresa do mundo, exceto a paulista.
Na saída, confirmamos no cardápio: a pizza cujo nome é "Calabresa" era aquela, de calabresa sem queijo. Quem mandou a gente pedir pelo nome comum?
Enfim, pelo menos ninguém mexeu na nossa pizza. Nem o garçom, que quando veio, na intenção de servir o terceiro pedaço, apenas recolheu a forma, que já estava vazia. Eu só queria não pagar a gorjeta, porque afinal de contas ninguém perguntou se a gente era italiano ou paulista - mas ele pagou, não me deu ouvidos.
Conta quitada, o garçom se foi, agradecendo.
Só faltava dizer, na saída, um boa noite!
Humpf.
Casa cheia, esperamos no bar até liberarem uma mesa, eu torcendo para que a mesa liberada fosse lá no fundo, onde tinha um lugar mais escuro e mais reservado. Chegou o maître:
- Por favor! - e apontou para uma mesa que ficava quase na porta do restaurante.
Frustração.
O ambiente era muito bonito, acolhedor, só esqueceram de tratar de uma coisa, que tanto me importa: a acústica. Eu não conseguia prestar atenção em outra coisa senão no barulho dos garfos batendo nos pratos, dos pratos batendo nos outros pratos, dos copos batendo nos pratos (?), dos copos batendo nos outros copos, dos garfos batendo nos outros garfos, no coro de vozes que ecoavam pelo ambiente. Foi subindo aquela ansiedade que doía no peito, mesmo com todos os comprimidos diários que me alimentam desde o meu acidente, há um ano.
Sentamos, abri o cardápio. As pizzas tinham nomes de gente, de coisas diversas, extremamente criativas - menos de pizza. Não dava para ter uma pizza chamada "Portuguesa"? Precisávamos ler a lista de ingredientes para ter noção sobre o que seria cada uma delas - um cansaço, pensei.
Ele comentou:
- A pizza de linguiça defumada não tem queijo!
Uma pizza sem queijo, Senhor! Onde se viu isso? Ah, é hábito paulista. E eu lá sou paulista? Eu queria ir embora, atravessar a cidade até aquele outro lugar para onde tínhamos imaginado ir, inicialmente. Ele achou que seria chato ir embora, e então ficou com a responsabilidade de escolher os sabores, até que decidimos, na forma simples e italiana de pedir pizza: calabresa e quatro queijos.
Uma coisa deveria ser certa: todo mundo saberia o que é uma pizza de calabresa e uma de quatro queijos, fosse qual fosse o nome.
Quando chegou o garçom para anotar o pedido, antes de deixá-lo falar, fiz aquela cara de sofrimento e implorei:
- Não teria alguma mesa em algum lugar mais reservado do salão, não assim NO MEIO DA PORTA?
Foi verificar, voltou com uma indicação. Olhei, mesa com dois lugares, lá no fundo, do lado de uma janela. Perfeito. Ao lado da nossa mesa, com um intervalo de espaço que mal permitia passar uma pessoa, outra mesa com dois lugares - vazia. Orei:
- Que esta mesa permaneça vazia, amém.
Mas a mesa ficou vazia por apenas alguns minutos. Por sorte, o casal da mesa ao lado falava em tom aceitável.
Fizemos então o pedido, conforme deliberado anteriormente:
- Calabresa e quatro queijos.
- Calabresa com ou sem cebola?
Podia ser com cebola.
Veja: foi apenas essa a pergunta com relação à pizza de calabresa. É importante memorizar essa informação.
Dentro de uma meia hora, veio o garçom com uma daquelas mesinhas de apoio onde colocam a pizza. Colocou a mesinha de apoio entre a nossa mesa e a mesa ao lado, e o espaço parecia ter sido pensado exatamente para permitir APENAS a introdução de uma dessas mesinhas. Era daqueles restaurantes nos quais o garçom domina a pizza (que fica na mesinha de apoio), e o garçom serve cada pedaço, a cada vez que vê seu prato vazio, com um espaço de tempo entre um pedaço e outro, como se dissesse:
- Ok, comeu seu primeiro pedaço, agora aguarde até que seja digerido. Pronto? Ok, vamos para o segundo pedaço.
Eu não gosto que ninguém domine a minha pizza. Quero cortar e comer só a borda de todos os pedaços, quero cortar um pedacinho de cada sabor, do tamanho que eu quiser. Quero comer um após o outro, não quero intervalos. Quero que o garçom apenas se ocupe de perguntar se a gente quer mais alguma bebida.
Mas o pior não era isso: era a mesinha de apoio. Aquilo estava me intrigando, porque não colocaram uma mesinha de apoio do outro lado da outra mesa. E o pior ainda não era isso: era a confirmação de que a mesinha seria dividida entre as duas mesas. Veio o garçom com duas tampas, colocadas uma ao lado da outra, na mesinha de apoio, só esperando chegarem AS DUAS PIZZAS.
Era absurdo! Comentei com meu marido:
- Vamos dividir a mesinha com eles???
Ele riu. Aquilo era um "sim, por quê?"
- Está rindo do quê? É como se estivéssemos na mesma mesa!!! Eles vão ficar vendo nossa pizza???
E se eles mexessem na nossa pizza? E vamos ter de olhar para eles se formos mexer na nossa pizza antes do garçom???
Só faltava eles dizerem "olá"! Humpf.
Tenso. E ele ria - e isso era mais tenso ainda.
Depois de quase uma hora, chegou a nossa pizza - antes da pizza dos vizinhos. E eles que não olhassem para a nossa pizza.
Para encerrar a saga, cortamos o primeiro pedaço da pizza de calabresa, a massa integral (que pedimos) seca e fina que não dava para fincar o garfo. E ele percebeu:
- A de calabresa não tem queijo!
A de calabresa não tinha queijo!!! A de calabresa não tinha queijo, a de calabresa não tinha queijo. Onde já se viu uma pizza de calabresa sem queijo???
O garçom chegou, para servir mais um pedaço de pizza (não precisávamos do seu trabalho). Mais uma vez, não aguentei:
- Estou frustrada com essa pizza de calabresa sem queijo!
- Ah, sim. A de calabresa não tem queijo. Mas nós temos a %$k& (falou o nome), que é de calabresa com queijo. A outra é a paulista, lá eles têm o hábito de não colocar queijo na pizza de calabresa. O garçom não perguntou para confirmar se de fato vocês queriam a de calabresa paulista original ou a com queijo?
Não, o garçom não perguntou. E a gente queria uma pizza de calabresa igual a todas as pizzas de calabresa do mundo, exceto a paulista.
Na saída, confirmamos no cardápio: a pizza cujo nome é "Calabresa" era aquela, de calabresa sem queijo. Quem mandou a gente pedir pelo nome comum?
Enfim, pelo menos ninguém mexeu na nossa pizza. Nem o garçom, que quando veio, na intenção de servir o terceiro pedaço, apenas recolheu a forma, que já estava vazia. Eu só queria não pagar a gorjeta, porque afinal de contas ninguém perguntou se a gente era italiano ou paulista - mas ele pagou, não me deu ouvidos.
Conta quitada, o garçom se foi, agradecendo.
Só faltava dizer, na saída, um boa noite!
Humpf.
Crônicas de Curitiba - O espaço alheio
Então, me senti curitibana.
Num auditório, escolhi um lugar bem no meio, deixando um espaço de duas poltronas até a parede, para ter menos possibilidades de alguém sentar ao lado. Tinha um sorriso de canto de boca na minha cara.
No meio da palestra, um casal chegou, homem e mulher (é importante esclarecer, porque casal nem sempre significa homem e mulher), parou bem ao lado da nossa fileira de cadeiras. Olharam para as poltronas livres nas fileiras adiante, eu torcendo para que continuassem olhando para frente, como manda a psicologia: cabeça erguida e olhar adiante. Mas o olhar deles se voltou para a sua esquerda. Era onde eu estava.
Com um sorriso no rosto, ela acenou: ali! Apontando na minha direção. Escolheram as duas poltronas que eu tinha guardado só pra mim ali do ladinho, e vieram, ambos simpáticos, pedindo licença, passando muito sorridentes até se sentarem, ela bem ao meu lado.
Não era um bom dia, então o jeito foi criar um biombo mental.
Só me faltava agora me dizerem boa tarde! Humpf.
Num auditório, escolhi um lugar bem no meio, deixando um espaço de duas poltronas até a parede, para ter menos possibilidades de alguém sentar ao lado. Tinha um sorriso de canto de boca na minha cara.
No meio da palestra, um casal chegou, homem e mulher (é importante esclarecer, porque casal nem sempre significa homem e mulher), parou bem ao lado da nossa fileira de cadeiras. Olharam para as poltronas livres nas fileiras adiante, eu torcendo para que continuassem olhando para frente, como manda a psicologia: cabeça erguida e olhar adiante. Mas o olhar deles se voltou para a sua esquerda. Era onde eu estava.
Com um sorriso no rosto, ela acenou: ali! Apontando na minha direção. Escolheram as duas poltronas que eu tinha guardado só pra mim ali do ladinho, e vieram, ambos simpáticos, pedindo licença, passando muito sorridentes até se sentarem, ela bem ao meu lado.
Não era um bom dia, então o jeito foi criar um biombo mental.
Só me faltava agora me dizerem boa tarde! Humpf.
quinta-feira, 6 de março de 2014
Crônicas da Intimidade - O melhor de ser mulher é...
Tarde da noite, eu, blogueira, quase escritora, maquiadora e viciada em produtos de beleza (e Internet) respondia a uma pergunta num site, para um concurso especial do Dia da Mulher. Frase difícil de ser completada, aquela! Imersa nos pensamentos à procura da criatividade e das melhores palavras, murmurei:
- Puxa, que difícil responder a essa questão sem ofender os homens! O melhor de ser mulher é...
- Mijar sentada?
Gargalhada imediata, quebra total do romantismo dos meus pensamentos.
É isso o amor: uma troca contínua - sempre vale a intenção de ajudar o outro!
- Puxa, que difícil responder a essa questão sem ofender os homens! O melhor de ser mulher é...
- Mijar sentada?
Gargalhada imediata, quebra total do romantismo dos meus pensamentos.
É isso o amor: uma troca contínua - sempre vale a intenção de ajudar o outro!
terça-feira, 4 de março de 2014
Não deixe
Só não deixe que eu me lembre
do que se anuncia
em mim
Só não deixe, não deixe,
não permita que eu seque
o choro
deixe-me chorar
Apenas me faça
aquele sorriso emocionado
embora molhado
sorriso de quem faz olhar, e olha, e vê
coisas coloridas na vida
Só não deixe que a penumbra
não permita ver
onde está você
Só não deixe que eu me perca
de você
Só não deixe, só não deixe
Não me deixe,
meu amor.
do que se anuncia
em mim
Só não deixe, não deixe,
não permita que eu seque
o choro
deixe-me chorar
Apenas me faça
aquele sorriso emocionado
embora molhado
sorriso de quem faz olhar, e olha, e vê
coisas coloridas na vida
Só não deixe que a penumbra
não permita ver
onde está você
Só não deixe que eu me perca
de você
Só não deixe, só não deixe
Não me deixe,
meu amor.
domingo, 2 de março de 2014
Saudosa choupana cosmopolita
Cães, córregos, pessoas:
ah, já sinto saudades
da vista da janela da cozinha
Os cães, principalmente os cães
filhotes felizes brincando com o vento no varal
saltos, festa nos lençóis heroicamente derrubados
Tão cedo, barulho da enxada
um ou outro capim catado no terreno
toda paz, todo silêncio
toda bucólica lembrança que me traz
roupa estendida no varal de corda
vassoura de varrer quintal
pessegueiros, laranjeiras, bananeiras
Mas os cães, esses especialmente,
esses que vimos crescer
esses que ouvimos ladrar em matilha, desesperadamente,
cessando quaquer ruído à primeira palavra da dona,
do alto da janela:
- Já deu? Vamos parar?!
Essa gente que vive a vida,
limpa, simples, desprovida de toda essa ansiedade
que anda a passos lentos pelo pátio no fim da tarde
um tempero para colher, um graveto para juntar
Ah, já sinto saudades da vista da janela.
Já sinto saudades de me encontrar na vista da janela,
de querer estar lá, tão perto, ali ao lado,
tão longe, em algum lugar do passado,
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