quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

A fatídica visão praiana dos sexos

Enquanto não me acaba o fôlego e o sol não adormece meu pensamento crítico, lá estou, correndo pela praia, e... observando. E a filosofia da vez era uma coisa normal de se observar na praia: os sexos.

Os sexos: homens e mulheres. Homens e mulheres num contexto praiano, liberto de (alguns) véus, porque a praia é um dos lugares onde um fiapo de liberdade aparece. E aí, meu amigo, a gente observa.

Já começo finalizando o meu pensamento: os homens estão em vantagem. O conceito estético de casal bonito começa a preocupar um casal que era bonito, quando se atinge um certo momento da vida. Aí a gente traça uma linha do tempo do relacionamento, dividida em três fases: na primeira, alguma coisa não fecha, porque a mulher, nova e bonita, escolheu aquele homem, tão mais velho e de aparência não muito agradável; na segunda, o casal é bonito: a mulher (a mesma mulher), madura e convicta, está ao lado de um homem (o mesmo homem), um pouco mais velho e bonitão, com alguns cabelos brancos que começam a dar a ele um charme todo especial; na terceira, a gente não entende mais nada: como um homem bonitão como aquele (o mesmo homem) está ao lado daquela mulher (a mesma mulher) ACABADA?

Pois é, os homens estão em vantagem. E sim, a gente olha para a bunda dos homens. A gente olha porque sente um ódio enorme daquelas bundas que não têm celulite. A gente sente um ódio dos homens, que não malham o tríceps mas não precisam se preocupar com o temido tchauzinho balançando. As coxas dos homens são naturalmente definidas. As panturrilhas dos homens são definidas. Os glúteos dos homens são definidos. A única coisa dos homens que tem aquela saliência natural é a barriga - mas o que é uma barriguinha quando todo o resto está definido? Enfim, a gente tem um ódio da testosterona. 

É incrível como alguns homens feios começam a ficar bonitos após os quarenta. Cabelos brancos são charme, essas partes todas do corpo continuam definidas. Se eles tiverem bom gosto na vestimenta e nunca usarem sunga vermelha, serãosempre bonitões na praia. 

Do outro lado da história, estão as mulheres. E não vamos falar de beleza interior: vamos falar de celulite. De culote. De flacidez. De coisas que caem, que balançam. De coisas que precisam de uma dedicação intensiva para, ao menos, ficarem menos caídas. As bundas das mulheres têm aquele relevo persistente, chato de ver. E não, não adianta dizer que isso não importa, porque importa sim. Não é bonito. Ninguém gosta. No máximo, a gente aceita, depois de exercitar um tanto a autoestima e depois, talvez, de alguma terapia. Ou a gente morre malhando, pagando por tratamentos estéticos, fazendo dieta, novena, macumba, ou qualquer outra coisa que prometa o fim da flacidez. Malditos hormônios.

E tem mais: enquanto as mulheres estão ali, constantemente se olhando para ver se o biquíni está em ordem, se não está aparecendo algum pêlo indevido, os homens bonitões estão lá, cheios de pêlos. Cheios de pêlos! Quem foi que inventou que mulher bonita não tinha pêlos? Se eu soubesse quem foi, iria agradecer, simplesmente, porque concordo que essa história de pêlo já devia ter sumido da nossa raça desde muitos milênios - mas e porque é que os homens ainda podem ter pêlos, sem que isso seja um problema para o outro sexo? Sinceramente, não dá pra entender.

E tem ainda mais: o metabolismo dos homens está em vantagem. Os homens podem comer o dobro, beber o dobro, dormir metade, investir zero na beleza da pele, e ainda serão os bonitões - salvo se passarem da dose ou usarem sunga vermelha. Enquanto isso, suas mulheres estão entre a cruz e a espada: se não os acompanharem nas noites de pizza, serão chatas e talvez sejam substituídas ainda na fase 1 do relacionamento; se acompanharem seus homens nas noites de pizza e não morrerem para matar as famigeradas calorias, inevitavelmente serão um dia observadas na praia como alguém que está na derradeira fase 3. 

Mas o que tem de ruim nisso? Nada. Não há nada de ruim, se o relacionamento da mulher com seu homem e do homem com sua mulher for suficiente para suprir essa fatídica observação estética, à qual estamos, todos, condenados. 

Estar na praia, desse ponto de vista, é levemente irritante, e me dá uma vontade enorme de parar de correr, pedir uma cerveja, sentar na areia, adormecer e acordar homem. Se eu acordasse homem, eu simplesmente então ia controlar a cerveja e cuidar um isso do abdômen, e aí já poderia fazer foto para capa de revista. E nunca usaria uma sunga vermelha. Mas não: eu sou mulher. Então, vou continuar a saga incansável e sem tréguas para tentar nunca passar da fase 2 no meu relacionamento.


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