O menino do jornal vem subindo a ladeira. Vem caminhando, está sôfrego. Vem empurrando a bicicleta colorida, a garupa carregada de jornais. No rosto do menino do jornal tem uma gota, que não é lágrima. É suor, que ainda não teve tempo de evaporar. Acabou de nascer, a gota; e logo sumiu. Tudo é uma questão de tempo, inclusive para as gotas de suor sob o sol escaldante.
De longe, se conhece que é o menino do jornal que vem chegando. É ele o único menino que passa pela rua naquele zigue-zague ritmado. Nos dias de chuva, quando seu rasto fica pelo chão, o menino desenha, sem querer, um exemplo prático de senóide. A onda está lá, simétrica. Poderia-se estudar, com o rasto do menino do jornal, questões importantes da Trigonometria.
Alguns detalhes estão claros sobre o menino do jornal. A bicicleta colorida fica mais colorida com o adesivo da banda preferida. Está sempre limpa, brilhando. O menino tem orgulho da sua máquina. Nem tudo é original; muito é adaptado. Para andar mais, para andar melhor, para deixá-la mais bonita. O menino do jornal gosta de ser visto, por detrás do jornal, e na frente da garupa. No ponto exato onde apenas ele seja visto. Ele, e a sua máquina, que é o seu orgulho.
O menino do jornal não tem dia nem noite. Nem tem estação. Para alguns, faz inverno e verão; para ele, faz hora de trabalhar. O menino do jornal está na rua, quando chove e o termômetro está negativo. E o dia não amanheceu. Ele se supera, tem força. Seu despertador toca muitas horas antes dos despertadores dos meninos da sua classe, na escola. E o sono não pode ter vez. É um campeão. E quando toda a cidade acorda, ansiosa para ler o jornal do dia, mal sabe que o menino do jornal está lá, preparando tudo, contando jornais, lembrando endereços, zigue-zagueando; ele e sua máquina, desde a madrugada.
Nada pode acontecer ao menino do jornal. Quando se demora pouco mais, a cidade, ora preocupada, ora revoltosa, se manifesta. Dentre os apelos pela chegada rápida do menino, ouvem-se poucos risos e muitas lamúrias. Então o menino atende ao celular que comprou com o primeiro salário, e é informado sobre o caos que se instala na cidade, em função da sua demora. Levanta a bicicleta, limpa o joelho que ralou, analisa se os jornais estão a salvo, e segue heroicamente o restante do percurso, empurrando a máquina, cuidando que o pneu furado não lhe cause maiores prejuízos.
A memória do menino do jornal não pode falhar. Entre as centenas de jornais que carrega na garupa, estão preferências que só ele conhece. Este fica debaixo da porta; aquele, na caixa de correio. Aquele outro, menino do jornal, você deve subir pela escada e colocar debaixo da caixa d’água. E o outro, ainda, você deve colocar em cima do pneu dianteiro direito do carro na garagem. O menino do jornal não pode esquecer. Tem que ser perfeito. Do contrário, vai atender ao celular e, outra vez, ser informado do caos que se instalou na cidade.
Quando o menino do jornal é interrogado sobre a sua profissão, ele diz: eu sou o menino do jornal. Mas poderia, sem mentiras, dizer: eu sou a base operacional daquela empresa que faz o jornal. Para quem não acreditasse, ele poderia contar, outra vez sem mentiras, que, quando ele erra, ocorre na empresa um terrível efeito dominó. Entre o menino do jornal e o balancete do jornal, há uma distância muito sutil. Mal sabe o menino do jornal. Muitos, mal sabem. Para alguns, o menino do jornal será, por toda a vida, o menino do jornal. E somente quando o menino do jornal já não for o menino do jornal, ele dirá, com orgulho, que o mundo seria melhor se todos tivessem um pouco de menino do jornal.
De longe, se conhece que é o menino do jornal que vem chegando. É ele o único menino que passa pela rua naquele zigue-zague ritmado. Nos dias de chuva, quando seu rasto fica pelo chão, o menino desenha, sem querer, um exemplo prático de senóide. A onda está lá, simétrica. Poderia-se estudar, com o rasto do menino do jornal, questões importantes da Trigonometria.
Alguns detalhes estão claros sobre o menino do jornal. A bicicleta colorida fica mais colorida com o adesivo da banda preferida. Está sempre limpa, brilhando. O menino tem orgulho da sua máquina. Nem tudo é original; muito é adaptado. Para andar mais, para andar melhor, para deixá-la mais bonita. O menino do jornal gosta de ser visto, por detrás do jornal, e na frente da garupa. No ponto exato onde apenas ele seja visto. Ele, e a sua máquina, que é o seu orgulho.
O menino do jornal não tem dia nem noite. Nem tem estação. Para alguns, faz inverno e verão; para ele, faz hora de trabalhar. O menino do jornal está na rua, quando chove e o termômetro está negativo. E o dia não amanheceu. Ele se supera, tem força. Seu despertador toca muitas horas antes dos despertadores dos meninos da sua classe, na escola. E o sono não pode ter vez. É um campeão. E quando toda a cidade acorda, ansiosa para ler o jornal do dia, mal sabe que o menino do jornal está lá, preparando tudo, contando jornais, lembrando endereços, zigue-zagueando; ele e sua máquina, desde a madrugada.
Nada pode acontecer ao menino do jornal. Quando se demora pouco mais, a cidade, ora preocupada, ora revoltosa, se manifesta. Dentre os apelos pela chegada rápida do menino, ouvem-se poucos risos e muitas lamúrias. Então o menino atende ao celular que comprou com o primeiro salário, e é informado sobre o caos que se instala na cidade, em função da sua demora. Levanta a bicicleta, limpa o joelho que ralou, analisa se os jornais estão a salvo, e segue heroicamente o restante do percurso, empurrando a máquina, cuidando que o pneu furado não lhe cause maiores prejuízos.
A memória do menino do jornal não pode falhar. Entre as centenas de jornais que carrega na garupa, estão preferências que só ele conhece. Este fica debaixo da porta; aquele, na caixa de correio. Aquele outro, menino do jornal, você deve subir pela escada e colocar debaixo da caixa d’água. E o outro, ainda, você deve colocar em cima do pneu dianteiro direito do carro na garagem. O menino do jornal não pode esquecer. Tem que ser perfeito. Do contrário, vai atender ao celular e, outra vez, ser informado do caos que se instalou na cidade.
Quando o menino do jornal é interrogado sobre a sua profissão, ele diz: eu sou o menino do jornal. Mas poderia, sem mentiras, dizer: eu sou a base operacional daquela empresa que faz o jornal. Para quem não acreditasse, ele poderia contar, outra vez sem mentiras, que, quando ele erra, ocorre na empresa um terrível efeito dominó. Entre o menino do jornal e o balancete do jornal, há uma distância muito sutil. Mal sabe o menino do jornal. Muitos, mal sabem. Para alguns, o menino do jornal será, por toda a vida, o menino do jornal. E somente quando o menino do jornal já não for o menino do jornal, ele dirá, com orgulho, que o mundo seria melhor se todos tivessem um pouco de menino do jornal.
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