Eu corro este risco muito sério do perigo
o risco dos teus olhos
bicho indomável fechando o cerco
alta tensão
Eu corro este risco, ventas de dragão
o risco do toque da tua mão
da minha e da tua chama que se cruzam,
contemplação
Eu corro o risco constante da fraqueza
da queda da armadura
da revelação
Eu corro este risco enorme do momento
do instinto, do nó na garganta
do impulso passional que se agiganta,
do coração
Eu corro este risco do grito sufocado
do sorriso que nasceu sem ser chamado
do entardecer, da súbita paixão.
...
domingo, 6 de abril de 2008
Poema Flutuante
Como são ricos teus olhos de abismo
cataclismo de luzes
grandes espelhos convexos
de paciência
Como são ricos teus olhos de fonte
e meus poemas, folhas deslizantes
vitória-régia
pra tua doce maresia
E agora,
e antes de tudo, e algum tempo depois,
nasce um bucólico poema para ti.
Porque só contigo os campos ficam verdes
e as flores todas me inebriam o olhar.
...
cataclismo de luzes
grandes espelhos convexos
de paciência
Como são ricos teus olhos de fonte
e meus poemas, folhas deslizantes
vitória-régia
pra tua doce maresia
E agora,
e antes de tudo, e algum tempo depois,
nasce um bucólico poema para ti.
Porque só contigo os campos ficam verdes
e as flores todas me inebriam o olhar.
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Apocalipse
Deixa que deságüem no mar nossas veias
e que fiquemos aqui, enfraquecidos.
Estáticos, inacabados,
que nem um sopro se mova sobre nós.
Reclina tua cabeça no meu peito;
deixa que lá fora o vento sopre,
mas só lá fora.
O silêncio aqui nos envolve como prece.
Nossos olhos descansam,
pulsa um mundo dentro de nós.
Deixa que deságüem no mar nossas veias
e permaneçamos imóveis,
teu corpo abandonado do meu lado.
Gregas estátuas, anjos decaídos,
diamantes enfim lapidados,
consumidos.
...
e que fiquemos aqui, enfraquecidos.
Estáticos, inacabados,
que nem um sopro se mova sobre nós.
Reclina tua cabeça no meu peito;
deixa que lá fora o vento sopre,
mas só lá fora.
O silêncio aqui nos envolve como prece.
Nossos olhos descansam,
pulsa um mundo dentro de nós.
Deixa que deságüem no mar nossas veias
e permaneçamos imóveis,
teu corpo abandonado do meu lado.
Gregas estátuas, anjos decaídos,
diamantes enfim lapidados,
consumidos.
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Perpetuação
Silêncio:
grito para dentro
de si mesmo.
Recusa
procura
angústia
olhar a esmo.
Amor, amar:
silêncio.
Pedra que cai na água
teto desaba.
Silêncio:
uma falha.
Grito para dentro,
lágrima.
Tudo se esvai.
Só o amor
não sai.
...
grito para dentro
de si mesmo.
Recusa
procura
angústia
olhar a esmo.
Amor, amar:
silêncio.
Pedra que cai na água
teto desaba.
Silêncio:
uma falha.
Grito para dentro,
lágrima.
Tudo se esvai.
Só o amor
não sai.
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Fabrizio
Fabrizio olha nos olhos e me domina
tem um jeito lindo de me desconcentrar.
Vez em quando ele só passa
que nem fumaça
não tem só reflexo no olhar.
Fabrizio fala de coisas que não sei
e tem uma ciência singular.
Vez em quando ele me esquece
desaparece
só fica uma saudade em seu lugar.
Fabrizio anda sozinho pelas ruas
mas sempre tem alguém a lhe esperar.
Vez em quando se liberta
me põe alerta
e a gente faz um filme sem notar.
Fabrizio sabe ouvir com paciência
e tem um jeito doce de falar.
Vez em quando ele sorri e fica sério
é só mistério
um pouco de loucura pelo ar.
Fabrizio na verdade não existe
o nome eu inventei, pra divagar.
Vez em quando eu fico assim, na maresia
nasce uma poesia
palavras impossíveis de calar.
...
tem um jeito lindo de me desconcentrar.
Vez em quando ele só passa
que nem fumaça
não tem só reflexo no olhar.
Fabrizio fala de coisas que não sei
e tem uma ciência singular.
Vez em quando ele me esquece
desaparece
só fica uma saudade em seu lugar.
Fabrizio anda sozinho pelas ruas
mas sempre tem alguém a lhe esperar.
Vez em quando se liberta
me põe alerta
e a gente faz um filme sem notar.
Fabrizio sabe ouvir com paciência
e tem um jeito doce de falar.
Vez em quando ele sorri e fica sério
é só mistério
um pouco de loucura pelo ar.
Fabrizio na verdade não existe
o nome eu inventei, pra divagar.
Vez em quando eu fico assim, na maresia
nasce uma poesia
palavras impossíveis de calar.
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Fragata
Busquemos, querido,
ancorar nossa barca antes do anoitecer.
Sentemos então, e enlacemos as mãos.
Depois pensemos aonde desejamos ir;
preparemos a partida para o amanhecer.
Em casa eu deixei todas as coisas
que muito me valiam.
Por isso relembremos os nossos motivos
e sempre averigüemos a sua veracidade.
Enquanto ancoramos a barca eu observo
a força do teu braço, querido.
E penso nas coisas que também deixaste.
Querido, é isso o amor. É isso o amor.
Fiquemos juntos e sigamos viagem.
...
ancorar nossa barca antes do anoitecer.
Sentemos então, e enlacemos as mãos.
Depois pensemos aonde desejamos ir;
preparemos a partida para o amanhecer.
Em casa eu deixei todas as coisas
que muito me valiam.
Por isso relembremos os nossos motivos
e sempre averigüemos a sua veracidade.
Enquanto ancoramos a barca eu observo
a força do teu braço, querido.
E penso nas coisas que também deixaste.
Querido, é isso o amor. É isso o amor.
Fiquemos juntos e sigamos viagem.
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quinta-feira, 3 de abril de 2008
Leveza
É leve a lembrança que tenho da força
das tuas mãos.
Leve como brisa.
Leve como o suspiro que me tomas,
como a paz que, de mim, levas
quando partes.
É leve teu gesto.
A tua palavra é leve, e o som dos teus passos
mais leve.
E a dor que me toma o peito
e o peso do meu corpo estendido
e a forma como se fecham os lábios,
tudo é leve.
É leve a certeza que tenho
da tua presença.
É leve e assim, tão leve,
que nem a sinto.
...
das tuas mãos.
Leve como brisa.
Leve como o suspiro que me tomas,
como a paz que, de mim, levas
quando partes.
É leve teu gesto.
A tua palavra é leve, e o som dos teus passos
mais leve.
E a dor que me toma o peito
e o peso do meu corpo estendido
e a forma como se fecham os lábios,
tudo é leve.
É leve a certeza que tenho
da tua presença.
É leve e assim, tão leve,
que nem a sinto.
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Guardando tesouros
Em tempos de assaltos em toda esquina, sabe como é: cada um deve se ocupar de bem cuidar do que julga valioso. E cada um tem um tesouro em particular, e o tesouro de cada um me parece coisa interessante de ser observada.
Outro dia, por exemplo, numa manhã razoavelmente quente, ainda no início do outono, na seção de frutas de um grande supermercado da cidade, tive uma visão apocalíptica. Uma moça bela, de longas pernas, calçando grandes botas que iam até os joelhos - e as botas com grandes saltos -, vinha num passo largo, os cabelos loiros jogados para trás na velocidade da caminhada, relativamente rápida. Tinha uma pose do tipo Gisele Bunchen, com os braços naquele balançar de passarela, quase um ângulo de noventa graus em relação ao tronco. A ultra-minissaia rodada quase permitia ver a cor da peça íntima e, ignorando o ambiente fechado em que estava, a moça deixava ainda que o nariz suportasse um enorme óculos escuro.
Não tive como não parar, não foi culpa minha. A moça era, deveras, bela, e ali, parada, observei-a, em conjunto com a reação de todos os que perceberam tal presença. Eu passava os olhos críticos e fotográficos pela criatura que se aproximava, tentando entender se seria aquilo uma pegadinha do Faustão ou um desfile de moda em meio às frutas, à Carmem Miranda. Ou se, simplesmente, a bela moça resolveu sair de casa, domingo pela manhã, como eu, para comprar, dentre tantas coisas, uma penca de bananas.
No enleio em que me encontrava, nem reparei que a moça vinha em minha direção. Quando saí do estado de choque, percebendo que o impacto aconteceria, retirei bruscamente meu carro de compras do caminho por onde ela vinha, furacão de botas com seus braços sacolejantes.
Enquanto se aproximava, vi que trazia, imediatamente atrás de si, um moço pouco menor, com semblante sério e preocupado. O moço olhava o ambiente ao seu redor como se sentisse a ameaça iminente, como o bicho que protege a cria, que só não a carrega como os cangurus por fatores adversos da natureza. Assim que passou a moça, o moço, cumprindo o papel que lhe foi destinado, fitou a mim com os mesmos olhos de fúria que viam os outros expectadores:
- O que foi? Nunca viu?
Em tempos de desapropriação de terras não cultivadas, é sempre bom protegermos o terreno. Estar alerta, no incansável plantão de quem jamais se permitiria perder o que é seu.
Semana passada, novamente no domingo pela manhã, no mesmo supermercado, avistei a moça que passava, com os mesmos óculos sobre o nariz, os braços ainda sacolejantes. Quando associei a figura com a lembrança, movimentei-me, naturalmente, pelo corredor, e nem me prestei a cuidar se era ainda ultra a minissaia. Na maioria das vezes, a figura do guarda-costas é bastante intimidante; preferi não arriscar. E tomei para mim uma grande lição: é preciso coragem – muita coragem – para a guarda eficiente de um grande tesouro.
...
terça-feira, 1 de abril de 2008
Máxima Tentativa
Eu tentei abrir
a porta do céu da tua boca
com a minha ânsia louca.
Só depois te vi sair
de dentro da minha oração.
Era a minha devoção.
Eu tentei fugir
de dentro da minha mente
fui cigana, fui serpente
Só depois te vi cair
pra dentro do meu jardim.
Era o que faltava em mim.
...
a porta do céu da tua boca
com a minha ânsia louca.
Só depois te vi sair
de dentro da minha oração.
Era a minha devoção.
Eu tentei fugir
de dentro da minha mente
fui cigana, fui serpente
Só depois te vi cair
pra dentro do meu jardim.
Era o que faltava em mim.
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Popularmente Falando
Passa o feijão,
você aí do outro lado da mesa
mas passa logo porque a mesa é grande
até chegar aqui posso morrer de fome
Passa um pãozinho
você aí tão farto e sossegado
mas passa esse pãozinho com cuidado
que aqui tem muito irmão passando fome
Passa o feijão!
A sua mão, fechada, é assim tão dura
ou você está fingindo não escutar?
Passa esse pão!
Não dá pra dividir tanta fartura?
O prato aqui já dá pra se espelhar!
Passa, meu irmão
Passa o feijão!
Só isso que eu estou a lhe pedir
Não vou ameaçar seu caviar
Passa, meu irmão,
pouco de pão
que aqui a gente sabe repartir;
tem muita boca seca pra molhar.
...
você aí do outro lado da mesa
mas passa logo porque a mesa é grande
até chegar aqui posso morrer de fome
Passa um pãozinho
você aí tão farto e sossegado
mas passa esse pãozinho com cuidado
que aqui tem muito irmão passando fome
Passa o feijão!
A sua mão, fechada, é assim tão dura
ou você está fingindo não escutar?
Passa esse pão!
Não dá pra dividir tanta fartura?
O prato aqui já dá pra se espelhar!
Passa, meu irmão
Passa o feijão!
Só isso que eu estou a lhe pedir
Não vou ameaçar seu caviar
Passa, meu irmão,
pouco de pão
que aqui a gente sabe repartir;
tem muita boca seca pra molhar.
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